Roque INRI

“Sobre a utilização do nome, há questões legais que os advogados de ambas as partes devem ter em conta (sabendo que os causídicos vimaranenses serão remunerados em tiras de entrecosto assadas na brasa).”

Perto de Guimarães, a organização de uma festa nas margens do rio Febras, com entrada gratuita e feita com a boa vontade de voluntários, que teve a brilhante ideia de lhe chamar Rock in Rio Febras, foi intimada pela organização internacional do Rock in Rio a mudar o nome por concorrência desleal.
Os milhões que se preparavam para se deslocar a esta pequena freguesia minhota, julgando que iriam poder assistir a concertos da digressão mundial dos Blur ou de Anitta, desenganem-se. Este aviso legal assegura que nenhum melómano internacional mais incauto marcará viagem para Briteiros imaginando que Torresmos é uma sensacional e inovadora banda de funk carioca.
Sobre a utilização do nome, há questões legais que os advogados de ambas as partes devem ter em conta (sabendo que os causídicos vimaranenses serão remunerados em tiras de entrecosto assadas na brasa).
Será que a organização do festival internacional poderá mesmo ter direitos de autor sobre uma expressão que, em inglês, significa “pedra no rio”?
Havendo um actor americano que se auto-denomina Rock, será que nunca se pode dizer, quando ele se estiver banhando numa praia fluvial, “that’s Rock in Rio Trancão”?
Ou quando, num qualquer barco rabelo, o barqueiro queira ouvir Rolling Stones, não poderá dizer “I love rock in Rio Douro”, que por acaso também é o título de um álbum dos GNR?
E como poderá um médico inglês comunicar ao ex-líder do PSD que tem uma pedra num rim, se não com as palavras “you’ve got a rock in, Rio”?
Julgo que os descendentes do jogral medieval João Zorro, contemporâneo de D. Dinis, deveriam processar a organização do festival luso-brasileiro de Roberta Medina por uso indevido da palavra “rio”, que esse autor do cancioneiro galaico-português usou em poemas como “Jus’a lo mar e o rio” ou “Mete el-rei barcas no rio forte”, uns bons setecentos anos antes do primeiro concerto em terras cariocas.
Sugiro ainda que os herdeiros de Miguel Torga reclamem o costume da palavra “rocha” como uma tradição literária única do seu antepassado.
Quanto ao anglicismo “rock”, o Dwayne Johnson que lhes dê uma tareia.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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