Revolução ou Minsk!

“Para ajudar o leitor na compreensão de uma situação tão complexa, utilizarei a minha especialização sobre o tema, como pessoa que conhece gente com amigos e familiares oriundos ou residentes na Rússia e, embora bastante menos importante, como leitor desatento de Saltykov-Shchedrín, Turguéniev ou Mandelstam.”

Esta semana, para ser possível compreender o que se passou com os funcionários da empresa Wagner na auto-estrada entre Rostov e Voronej, não é suficiente ter lido todos os tratados de estratégia militar e propaganda política que existem.
Para ajudar o leitor na compreensão de uma situação tão complexa, utilizarei a minha especialização sobre o tema, como pessoa que conhece gente com amigos e familiares oriundos ou residentes na Rússia e, embora bastante menos importante, como leitor desatento de Saltykov-Shchedrín, Turguéniev ou Mandelstam.
Numa primeira nota, deve o leitor saber que a forma correcta de pronunciar o nome do chef de cozinha que se tornou chefe da Wagner é Prigojin. Há quem diga Prigozin, que se aproxima muito da sua alcunha – Perigozinho – mas não é a pronúncia correcta, da mesma forma que aquela marcha com tanques a toda a brida foi também uma pronúncia militar incorrecta.
Em segundo lugar, atente-se que o bielorusso Lukashenka recebe, na mesma semana, uma remessa de bombas nucleares e outra de soldados mercenários. Nada mau, para quem estava acostumado a lidar apenas com batatas. A incógnita, neste duo dinâmico, é saber quem cai primeiro – se Lukashenka, do poder, ou se Prigojin, de uma varanda.
Como terceiro apontamento, é relevante assinalar a fuga do todo-poderoso Putin (também conhecido como filho da Putina) para S. Petersburgo, assim que viu as coisas malparadas. Ao contrário de Zelensky no início da invasão russa, Putin borrifou-se nas munições e pediu rapidamente uma boleia. O presidente Macron deve estar ainda a reler todas as afirmações que proferiu nos últimos dois anos sobre não encurralar Putin e não humilhar a Rússia por causa do perigo que isso representaria, e a pensar, em francês, obviamente, “uff… bah… pff…”
Finalmente, foi perceptível a dimensão do fracasso da intentona quando se começaram a publicar fotos dos jovens “millennials” mercenários da Wagner parados num café para comprar “latte”. Caros revoltosos, dessa escolha já o Lenine tinha avisado: “O abacate ou a revolução”.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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