O regresso da escola será verdadeiramente o regresso à normalidade. Ou à “nova normalidade”.
Num momento em que, supostamente, a segunda vaga da pandemia vai em crescimento (e os cientistas apontam o mês de dezembro como “o mais duro” do flagelo Covid), e enquanto António Costa assume que vamos entrar «num momento crítico», respeitarmos as regras e conselhos da Direção-Geral de Saúde e seguir os muitos apelos para sermos cuidadosos e mantermos a distância e o recato são as única opções. O “novo normal” continua a ser difícil e a tendência será haver um aumento de infetados. Agora sem pânico, mas com receios justificados. Sem atrofio nem confinamento, mas com cuidados em todos os momentos.
O regresso ao trabalho contribuiu para o aumento de infeções. E naturalmente toda a comunidade escolar está agora preocupada com o que poderá ocorrer com o regresso às aulas. Os planos supostamente feitos vão ser postos à prova e, para já, entre a falta de reforço nos transportes e a falta de meios, existe grande preocupação sobre o que poderá acontecer. O regresso do confinamento que ocorreu no segundo semestre do anterior ano letivo não pode voltar a acontecer. O risco existe e temos de saber conviver com ele. Todos. E todos teremos de ser parte da solução. Muito mais do que lamentarmos a falta de meios ou o risco da infeção, temos de ser responsavelmente participes ativos do regresso à normalidade. As escolas podem vir a ser locais de contágio, mas são em primeiro lugar locais de formação e conhecimento indispensáveis, por isso, alunos, pais, professores ou dirigentes, todos temos de contribuir para o seu melhor funcionamento. Depois de meses complicados de confinamento, em que a maioria dos professores, esforçadamente, reagiram digitalmente e ensinaram à distância, as crianças precisam de aprender e crescer na escola; infelizmente houve professores (e inclusive escolas!) que bloquearam perante as dificuldades e não conseguiram ensinar através das plataformas digitais, não se adaptaram e ficaram à espera que o Governo resolvesse aquilo que temos de ser nós a resolver – o coletivo, a comunidade, cada um de nós, temos de nos reinventar, temos de nos adaptar e continuar em frente, pois só assim será possível contornarmos as dificuldades e enfrentarmos a pandemia e a enorme crise que lhe está associada. Como era referido no editorial do Público (terça-feira), «haver escolas que nada fizeram, porque o Governo não os mandou fazer nada, haver magistrados que criticam a falta de acrílicos, para depois ficarem quietos, haver funcionários públicos que metem baixa para se protegerem, deixando de prestar o serviço que lhes cumpre, é apenas desculpa de uns poucos para se demitirem das suas responsabilidades». Se todos optarmos por essa via as consequências serão muito piores para todos (declaração pessoal: durante todo o tempo de confinamento, com sentido de responsabilidade e cumprindo com as regras da DGS, trabalhei todos os dias, entre 1 de março e 17 de julho, menos no dia 1 de maio, mais dias e mais horas do que o “normal”, no exercício das minhas funções e denodadamente continuar a contribuir para uma sociedade mais informada e assegurar a sobrevivência da empresa que edita este jornal, com a ajuda dos colaboradores, dos clientes, dos assinantes e leitores, e sem qualquer apoio do Estado, ao contrário do propalado).
PS: O falecimento de Vicente Jorge Silva, que foi cofundador e primeiro diretor do jornal “Publico” foi uma má notícia para quem gosta da imprensa livre. Foi uma das personalidades que mais me marcou e um dos grandes jornalistas portugueses do nosso tempo. Influenciou-me decisivamente a enveredar pela vida de jornalista e pela marca irreverente de independência e liberdade de expressão. Como eu, nunca quis ser outra coisa que não fosse ser jornalista, mesmo quando sonhou com ser um grande cineasta ou intervir na política para «mudar o sistema por dentro».