Refletir sobre a Guarda

“A Guarda foi sabendo construir o seu futuro, pensar sobre o seu contexto e as suas potencialidades, definir as suas vantagens competitivas endógenas e específicas, olhar para lá dos limites das suas próprias fronteiras e alargando os horizontes de influência.”

Há desafios a que se responde com gosto e com entusiasmo. Refletir sobre a Guarda, em particular sobre as suas potencialidades e sobre a sua envolvente política, social e económica, é um desses desafios imperdíveis, neste tempo em que se celebra mais um aniversário da sua centenária história que tanto deu à identidade de Portugal.
Daí que as minhas primeiras palavras sejam dedicadas aos cidadãos da Guarda, à sua capacidade de resistência às adversidades, a sua mobilização para as conquistas e para o sucesso, que souberam extrair da rudeza da vida, o ânimo e a fortaleza de carácter que os moldaram e lhes conferiram força para vencer.
A Guarda foi sabendo construir o seu futuro, pensar sobre o seu contexto e as suas potencialidades, definir as suas vantagens competitivas endógenas e específicas, olhar para lá dos limites das suas próprias fronteiras e alargando os horizontes de influência. Foi desse modo que se foi desenvolvendo, com sustentabilidade e equilíbrio, que protegeu as pessoas e o seu bem-estar, que preservou o seu ambiente e a sua qualidade de vida, enquanto explorava a modernidade estrutural dos serviços e a sua base económica muito focada no turismo e na sua envolvente.
O progresso e o desenvolvimento fazem-se com ideias, com projetos criativos e com planeamento e, permitam-me afirmá-lo, as “Conferências da Guarda” constituíram uma plataforma de pensamento e reflexão inquestionáveis.
Estou certo que a Guarda vai continuar a trilhar essa via de sucesso.
Não é tarefa fácil. A atual conjuntura do país, com inevitável impacto nas várias regiões que o integram, apresenta dificuldades muito acentuadas a vários títulos, e que nem sempre mereceram os adequados impulsos do poder político para os conter, ou minimizar os seus efeitos.
De entre eles releva a crise sanitária gerada pela pandemia, que afeta a saúde pública, atinge o crescimento da economia e da criação de riqueza, empobrecendo-o, impede a convocação das energias nacionais, para que a sociedade portuguesa seja mais justa, solidária e equilibrada.
Em tempos difíceis, exigem-se opções de políticas que os mitiguem. As respostas do governo, nesse domínio, foram fartas em proclamações e em anúncios de popularidade fácil, mas vazios de conteúdo ou mesmo incumpridos, gerando desânimo e suspeição nas pessoas e no seu quotidiano e desilusão nos pequenos e médios empresários, fustigados pelos efeitos dessa pandemia.
O Plano de Recuperação e Resiliência tem assumido o papel de instrumento de propaganda política do Governo, mas incapaz de se constituir como plataforma de definição de uma estratégia nacional partilhada pelos parceiros sociais, pelos operadores económicos e pelas instituições políticas, num verdadeiro desígnio coletivo. A excessiva governamentalização dos instrumentos de gestão estratégica, como é o caso do PPR, é um erro que se pode pagar caro, nomeadamente pela frustração de uma oportunidade potencial para um novo impulso no país.
As preocupações táticas do atual poder conduziram à fragilização política da solução que ele próprio construiu – a denominada geringonça – lançando o país numa crise política de que foi autor principal e que acresce às crises económica e sanitária que o próprio primeiro-ministro não resistia a acenar aos portugueses, como se procurasse desligar-se da sua responsabilidade.
O Presidente da República e as oposições foram alertando para os sinais de fracasso da solução protagonizada pelo PS, pelo PCP e pelo BE e para as consequências que daí resultariam para a estabilidade política no país. Não quiseram dar atenção às evidências, e a irresponsabilidade acabou por prevalecer sobre o comprometimento com o país, arrastando os portugueses para a antecipação das eleições e para a renovação do quadro político nacional.
Podemos extrair daqui uma conclusão: os governos do PS, suportados pela sua esquerda política, não garantiram a estabilidade que anunciaram e prometeram, nem, o que é ainda mais importante, foram capazes de revelar uma dinâmica reformista que alterasse o perfil estrutural do país, mergulhados nas suas contradições internas que os paralisaram. Limitaram-se a gerir, o poder, os seus instrumentos e os seus recursos, esquecendo-se de criar as condições de futuro.
É este o contexto em que celebramos mais um aniversário da cidade da Guarda, em que a redescobrimos no seu esplendor.
O país, no seu conjunto, terá também a oportunidade de retomar a esperança e de confiar numa visão reformista ao serviço das pessoas.

* Deputado ao Parlamento Europeu

Sobre o autor

Álvaro dos Santos Amaro

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