Num próximo congresso de uma ciência social de cujo nome não me apetece recordar, haverá uma apresentação dedicada ao tema do racismo ambiental.
Várias pessoas manifestaram estranheza pelo conceito, mas eu percebo perfeitamente a importância de pensar em racismos ambientais, vários. Eu, por exemplo, aprecio a boa sombra de uma tília, mas tenho pouco respeito por chorões. E também considero que abetos e eucaliptos deviam voltar para as terras deles, que o solo português é para carvalhos e javalis.
E nem me façam falar dos rios espanhóis, que são largos e fazem muito barulho. É uma raça de rios que incomodam e tiram a paciência a qualquer monge tibetano.
O clima é outro que sofre de racismo estrutural. Parece que as pessoas gostam mais quando o boletim meteorológico se aproxima mais do vermelho do que do azul. Esta racialização das temperaturas por coloração RGB é um tema que precisa ser discutido, e já vamos tarde.
Além do racismo, há também o machismo ambiental. A tornados e vulcões toda a gente lhes admira a força, mas à geada ninguém tem respeito, só por ser feminina, andar por aí à noite e nos entrar em casa já de madrugada.
Ornitorrincos dos antípodas
Na Nova Zelândia, a feminista – clássica definição de alguém que se bate pela causa dos direitos das mulheres – Posey Parker organizou um comício intitulado, veja-se bem o radicalismo, “Deixem as Mulheres Falar” e foi atacada por uma turba imensa de activistas (auto-denominados progressistas) que, além de a impedirem de falar, tentaram mesmo atacá-la fisicamente. Há poucos anos, isto seria um exemplo claro de violência de género, machismo estrutural, patriarcalismo. Hoje, pelos vistos, é progresso.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia