1. No contexto dos “desafios da mobilidade nos territórios de baixa densidade”, a ministra Ana Abrunhosa asseverou que o plano de mobilidade, que está a ser feito, será determinante para a coesão territorial. E que a as comunidades intermunicipais têm de ser cada vez mais as autoridades de transportes supramunicipais. Não há outro caminho. Os transportes públicos têm de servir as populações, têm de servir as pessoas.
Efetivamente, os territórios de baixa densidade têm problemas de toda a ordem, sendo a mobilidade um dos maiores. O despovoamento, o envelhecimento, a pobreza, o isolamento… têm de ser contrariados pela capacidade dos poderes públicos contribuírem para uma maior facilidade de mobilidade. As pessoas que resistem no meio rural, no interior de Portugal, têm de ter soluções de transporte que lhes permitam continuar a residir nas suas localidades e deslocar-se de acordo com as suas necessidades.
O Estado tem atirado dinheiro para cima do problema, mas até agora sem um plano de mobilidade, como resposta às necessidades, às debilidades, à fragilidade dos que precisam de transporte. Só no último verão, a CIM Beiras e Serra da Estrela entregou às empresas de transportes um milhão de duzentos mil euros – sem que, com isso, os passes ou os bilhetes ficassem mais baratos aos utentes; sem que, com isso, houvesse melhor serviço para as pessoas; sem que, com isso, passasse a haver uma rede de transportes que satisfizesse as necessidades das pessoas. Por isso, é urgente que haja um plano de mobilidade que responda às necessidades das populações.
Felizmente, autarquias como o Fundão ou Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel, Trancoso ou Sabugal têm dinamizado e investido na mobilidade nos respetivos concelhos, com transporte “à medida” das necessidades e como resposta ao direito que as pessoas têm à mobilidade. Mas sim, o governo tem de ser mais ambicioso e as CIM têm de promover uma rede de transportes coletivos regional
2. Miguel Sousa Tavares é uma referência como jornalista, comentador e escritor. Foi colaborador do Jornal O INTERIOR e ajudou-me nos primeiros anos deste jornal a afirmar a nossa marca, o nosso projeto editorial e a nossa ambição jornalística – durante mais de dois anos (entre 2000 e 2002), publicámos quinzenalmente uma crónica de opinião que cimentou o nosso compromisso com a liberdade de expressão e a pluralidade de opinião. Sempre o admirei e por ele tenho a maior consideração pessoal e profissional.
Na semana passada, na nova rúbrica do “Jornal Nacional” da TVI, José Alberto Carvalho e Miguel Sousa Tavares (MST) comentaram a eleição de Marina Machete, mulher transgénero, como Miss Portugal 2023. O assunto era do meu completo desconhecimento, mas fiquei perplexo com o que ali foi dito – como perante tantas outras coisas que ouço ou leio, pensei que só eu não me revia no que ouvia… Até que li Carmo Afonso no “Público”.
M.S.T. considerou que não foi uma mulher bonita que ganhou o concurso, mas antes «várias operações plásticas e medicina molecular». E, tal como Carmo Afonso, não duvido que muitos portugueses pensem assim. E não duvido que à maioria pareça estranho ou bizarro que haja pessoas que não se sentem cómodas na sua natureza, no seu corpo, no seu género…
Muitas pessoas “são diferentes” e não é admissível que, por preconceito, se estigmatizem aqueles que são diferentes. O sofrimento daqueles que vivem num corpo com que não se identificam, que lutam para mudar, para ter a sua dignidade, não pode ser assim tratado. Podemos não apreciar, mas não é aceitável que ofendamos. Porque se «é difícil imaginar o processo de sofrimento emocional pelo qual uma mulher como Marina Machete teve de passar» para chegar ao momento em que a descobrimos como Miss Portugal, não podemos deixar de perceber aqui que tudo foi conquista e uma luta extraordinária, um «calvário», para além do preconceito familiar e social que rejeita e marginaliza as pessoas assim. Mas como se fosse pouco, os comentários homofóbicos e a repulsa por pessoas “diferentes”, transgénero, apresentaram-nos um M.S.T. cheio de puritanismo, machismo e preconceito para com a homossexualidade e a “diferença”, que ainda estão impregnados na sociedade. José Alberto Carvalho já pediu desculpa pelas palavras e «atitude irrefletida», precisamente porque «todas as pessoas devem procurar a sua felicidade».
Puritanos e machistas
“Felizmente, autarquias como o Fundão ou Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel, Trancoso ou Sabugal têm dinamizado e investido na mobilidade nos respetivos concelhos, com transporte “à medida” das necessidades”