Os intelectuais de um livro só reduzem tudo ao preto e branco das letras sobre o papel e não há quem os consiga desembrulhar da verdade de que se sentem revestidos. Aos desafios com que se deparam, gostam de responder com imperativos de moral, sem responder ao que quer que seja, em sequências fechadas de auto adjetivação: “sério”, “honesto” e “pés assentes na terra”. Como se voar fosse pecado e a honestidade transmissão de berço. Perante as dificuldades, retruquem com o sacrifício. Poder-se-á até pensar que gostam mesmo é de assumir o lado preto das páginas do seu catecismo, como inevitabilidades do destino a que ninguém conseguirá escapar. E levam a coisa a tal ponto que já nem os sociólogos de esquerda conseguem interpretar as sociedades, nem os economistas e gestores de direita conseguem interpretar as tendências.
Para uns, e outros, a realidade deixou de ser o que é para passar a ser o que eles encasquetaram que devia ser. Do alto da sua arrogância, encorajam os outros a ser humildes, sem se dar conta de que tanta contradição lhes arruína a credibilidade. O que, quer se queira, quer não, acaba por ser tão problemático para eles como para os outros todos. Desde logo, este problema de não se compreender como é que alguém se considera, por ter estudado no colégio alemão e defender que os impostos só atrapalham os empresários, merecedor da nossa confiança. Está bem que tem um gato com nome pomposo, mas quem é que quer saber da vida de um felino que dá pelo nome de Zé Albino? Depois, há o outro que, por ter andado no colégio militar e gostar tanto de touradas e caçadas, ainda deve andar com a cabeça às voltas para compreender por que razão só mereceu a confiança de meia dúzia. Sobre os vermelhos, relembrando a história, nada haverá a discorrer porque, ao que tudo sugere, nada aprenderam com ela. Por outro lado, há também o problema, nada pequeno, de haver quem, ao invés de os alertar para a inadequação social das suas teorias e propostas, os anime a prosseguir na senda de tanto disparate, através de mini sondagens. Ou, para se ser mais preciso, de micro sondagens a que se não vislumbra outro propósito que não seja o de substituir pequenos partidos democráticos por franchisados de partidos racistas, xenófobos e outros “istas” e “fobós” que tais. Baralhando e confundindo tudo e todos, menos os que não estão interessados em ser confundidos.
“Pluralidades”, nada desejáveis a deixarem-nos algum amargo de boca, apesar da cor rosa do mapa português, que implicam muita reflexão dos partidos. Tanto nos partidos de direita, como nos de esquerda. Quanto aos franchisados, não sendo verdadeiros partidos, convém não esperar que o negócio se extinga por si só. Ou, pior ainda, aceitar que haja quem, de forma leviana, não se obrigue a esquivar-se a normalizá-los, pensando que daí lhe vem algum proveito. É que, como se viu, não veio, nem há de vir. A não ser, talvez, a lição sobre como “perder com dignidade”, seja lá o que isso for.
“Perder com dignidade”
“Do alto da sua arrogância, encorajam os outros a ser humildes, sem se dar conta de que tanta contradição lhes arruína a credibilidade.”