Não vou falar da situação prevalecente no país e no mundo, porque sobre isso fala tanta gente, que a minha opinião, de quem não sabe nada do assunto, só exponenciaria a maioria das asnices quotidianas!
Estou a reler algumas passagens do “Pós-Guerra”, de Tony Judt, a história da Europa desde 1945, para conseguir perceber qual vai ser o futuro do país quando chegar a altura do “lamber as feridas”. Tive curiosidade em ver o que se fez na Europa nos anos ontem, os que se seguiram à guerra, e o esforço que as populações dos países destruídos pela devastação tiveram que fazer para reerguer a economia e conseguirem dar uma dignidade mínima de vida aos cidadãos. Nem tudo foi sempre “low-cost”!
Neste reviver o passado na Europa estamos a olhar para o futuro do espaço económico que foi projetado para ser comum, mas onde há alguns mais comuns que outros, e a quem a outros o comum causa engulhos. «A história repete-se sempre, pelo menos duas vezes», disse Hegel na “Filosofia da História”, ao que Marx no “18 de Brumário de Luis Bonaparte”, contrapõe que ele se terá esquecido de dizer que «primeiro como tragédia, segundo como farsa»!
Pois, nada será como dantes a partir de agora por vários motivos. A hecatombe na frágil estrutura empresarial portuguesa, com falências e encerramento de empresas e pequeno comércio, levará a uma horda de desempregados com consequências imprevisíveis num harmonioso e desejável equilíbrio social do país. A emigração ao longo de mais de um século foi sempre a tábua de salvação de muita gente, principalmente deste interior, socorrendo-me do livro de Judt para lembrar, a título de exemplo, o quão importante foi a mão de obra portuguesa na recuperação de uma França do pós-guerra. Hoje, esse eterno balão de oxigénio, que vai minorando o número de pessoas que o Estado tem que sustentar em situação de inatividade, está condicionado pela pandemia do ferrete económico em destinos habituais da nossa emigração, que levarão muitos anos a recuperar deste abanão profundo.
Estou muito pessimista, até porque o centro económico tem passado paulatinamente para a Ásia, para países de grande produção e de regras draconianas no mercado laboral, o que em rigor é uma perfeita antítese dos direitos sociais dos trabalhadores europeus conquistados com muitas lutas. A China, Coreia do Sul e também o Japão têm grande liquidez e não escondem a avidez para investirem numa Europa onde o consumo é elevado. As contrapartidas serão ainda mais gravosas do que foram os acordos de comércio assinados entre a UE e a China que levaram à destruição de um sector têxtil importante no país, isto para dar um pequeno exemplo do que foi uma tragédia para pequenos países como Portugal.
António Costa, numa recente entrevista, disse que «Portugal terá de voltar a produzir o que se habituou a importar da China». Estranho que se tenha lembrado agora o que já há 40 anos se anda a avisar, que a destruição sistemática do sector produtivo ia inevitavelmente ter consequências e esta epidemia pôs a nu as fragilidades da “economia de sucesso” que tem vigorado.
Não vale muito a pena “chorar sobre o leite derramado”, mas a persistir-se nos erros acabaremos num suicídio económico coletivo e as gerações vindouras passarão francamente mal, e a nossa geração será culpabilizada por tudo o que de mau sobrevier.
E não tem nada a ver com o texto, mas desqueça-se: “Vale mais confinado que finado”.