A inauguração dos Passadiços do Mondego era porventura a mais esperada obra dos guardenses. A ideia foi lançada pelo então presidente da Câmara da Guarda Álvaro Amaro no Dia da Cidade, em novembro de 2016, o projeto demorou três anos, entre definição de percurso, caraterísticas, financiamento, aprovação pelo Tribunal de Contas e lançamento da primeira pedra do empreendimento a 27 de novembro de 2019 (precisamente pela ministra Ana Abrunhosa e o então autarca Chaves Monteiro). E mais três anos de execução até à inauguração, no passado domingo, por Ana Abrunhosa e o edil Sérgio Costa.
Seis anos depois de apresentada, a obra foi oficialmente aberta ao público ansioso por percorrer um trilho de natureza, por entre os rochedos da serra e o murmúrio das águas do Rio Mondego. De Videmonte à Barragem do Caldeirão, ao longo de uma dúzia de quilómetros, num território agreste, único, inacessível, carregado de história, vivo, verde, reconhecido pela Unesco como Geopark Estrela. Entre o Ribeiro do Barrocal e o Rio Caldeirão, com o Rio Mondego como fundo e companheiro de caminhada, na envolvente mais frondosa e íngreme da Serra da Estrela, envolvendo as aldeias de Videmonte, Trinta, Vila Soeiro ou a Barragem do Caldeirão, mas também Misarela, Pero Soares, Chãos, Trinta ou Maçainhas. Com acesso privilegiado ao Miradouro do Mocho Real ou à centenária Central Hidroelétrica do Pateiro (a primeira a produzir eletricidade na região e uma das primeiras do país), às antigas fábricas de tecelagem, à cascata, ao xisto, aos moinhos e casas ancestralmente isoladas de um mundo já desaparecido, mas que ainda podemos encontrar ali, junto às águas frescas do Mondego, no Parque Natural da Serra da Estrela.
Os Passadiços do Mondego são uma forma “urbana” de viajar pela natureza. São uma obra importante nas novas dinâmicas turísticas e deverá contribuir para alavancar um novo fluxo de visitantes. Bem desenhados, melhor promovidos, poderão permitir que os turistas quando visitam o concelho tenham mais um local aprazível para conhecer – e aqui, convém não esquecer que o primeiro turista a atrair é o de proximidade, o da região, porque serão sempre mais e conquistados os visitantes de proximidade mais facilmente se podem atrair os de longe. O sucesso do empreendimento será o sucesso do concelho e da região. Não será um caminho fácil e ainda faltam alguns equipamentos de apoio, que têm de ser feitos, e uma solução de mobilidade entre o início e o fim dos passadiços, mas, entretanto, com defeitos, criticas e, seguramente, aspetos menos interessante ou menos apreciáveis, mas esta será uma infraestrutura que gera grandes expetativas e vai permitir uma outra perspetiva sobre o turismo de natureza no concelho da Guarda (os trilhos tradicionais, os caminhos velhos, os carreiros pela serra, etc, continuam lá e são a mais intensa das experiências, mas não atraem turistas…). Condenados ao sucesso, os Passadiços do Mondego são apenas um passo no muito que há para fazer para conquistar turistas à Guarda.
O Hotel de Turismo deverá ser o próximo passo. E a Cultura a alavanca incontornável que é preciso recuperar como utopia do futuro e como suporte de um grande centro de dinamismo turístico e cultural que a Guarda almeja (que bom seria repensar um centro de arte contemporânea, o de Piné ou outro, e investir de forma séria no SIAC…). «Passo a passo», pois claro, sem deslumbres, rumo ao futuro, porque o tempo passa depressa e com pressa e a Guarda leva muito tempo à espera…
Passo a passo
“Condenados ao sucesso, os Passadiços do Mondego são apenas um passo no muito que há para fazer para conquistar turistas à Guarda.”