Logo após a saída dos últimos resultados eleitorais tanto a liderança do PS, como a do PCP, decidiram não considerar racistas os 18% de eleitores que votaram num partido de pendor assumidamente racista. Segundo elas, o facto de 18% ter votado assim não significa que 18% dos eleitores sejam racistas. Ora, num país em que, social e culturalmente, as interações entre os seus cidadãos permeiam e são permeadas por constantes manifestações de racismo, preferimos escusar-nos a tolerâncias paternalistas e considerar a boa da decisão, qual católica bonomia, como a tentativa de não acrescentar mais extremismos ao que já está extremado que chegue. Isto, porque mesmo que nem todos esses eleitores sejam racistas, os que alegadamente o não são, também não deram ao facto de o partido em que votaram o ser importância que chegasse para lhe negar o próprio voto. Ficando assim evidente que, para 18% dos eleitores, a força do racismo continua a ser maior do que a do antirracismo. Uma vez que, podendo haver quem não tenha votado num partido de matriz racista por ser racista, não o sendo, também não se importa nada de ser representado por quem o seja.
Contudo, como bem sabemos, o racismo e, já agora, a xenofobia não serão de todo os únicos elementos apelativos, para uma certa leva de eleitores, no ideário desse partido. A sua hostilidade para com as liberdades individuais, inerentes a algumas mudanças culturais que têm dominado o debate da esquerda mais académica, também não terá sido alheia aos resultados alcançados. O que nos diz que a esses eleitores, quando não é a multirracialidade a atormentá-los será a liberdade individual de cada um. Sempre muito avessos a que cada um possa ser o que quiser, não se coíbem de se assumir anti tudo e mais alguma coisa em nome de uma moral, misturada com religião, como forma de impor aos outros a sua própria visão de sociedade. Uma visão que dá em colocar tudo e todos em patamares e com que até mesmo os seus eleitores colocados nos patamares mais baixos parecem concordar.
Claro que depois de iniciada a categorização, para já perante a moral e os costumes, misturados com religião, dos cidadãos, nada a poderá fazer parar tão cedo. Nessa categorização, as mulheres, por exemplo, passam a ser tratadas como seres débeis a quem é preciso orientar nas próprias decisões que podem ir desde o tamanho da saia à interrupção voluntária da gravidez. Mas a coisa piora significativamente se se sentirem atraídas por outras mulheres, pois desde “curas”, tão mais milagrosas, quanto mais humilhantes se revelarem, com tudo as hão de agredir na tentativa de as “encaixar” no tal padrão da “gente de bem” com que se auto baptizam. Se isto vos começar a fazer lembrar outras realidades, outros países e regimes, melhor será começar a pensar, a sério, no que é que nos trouxe até aqui e nos que nos poderá levar a sítios que, por enquanto, a maioria ainda rejeita.
É que a “crise”, as más condições disto e daquilo e outras que tais, como as más condições de carreira de alguns profissionais, em democracia, não parecem coisas capazes de o fazer. O que, por si só, já indicia ser a democracia o principal alvo de tais propostas políticas sufragadas por 18% dos eleitores portugueses.
Outras representações
“Claro que depois de iniciada a categorização, para já perante a moral e os costumes, misturados com religião, dos cidadãos, nada a poderá fazer parar tão cedo.”