Um ser de outro planeta que assistiu ao nascimento e à morte do Universo. A bordo da sua máquina do tempo viaja incessantemente pelo passado, visitando os mais diversos pontos do Universo e fazendo-se acompanhar por companheiros da espécie humana. O seu nome é Doctor Who e é a personagem central da série homónima britânica que se estreou no longínquo ano de 1963.
Esta série de culto oferece-nos uma experiência única: uma paródia divertida e emocionante do nosso mundo, mas munida de uma forte carga filosófica. Tão depressa nos rimos, como a seguir já sentimos o peso de uma lágrima no canto do olho. O episódio termina, mas as suas mensagens e os seus dilemas prolongam-se nos nossos pensamentos.
Os tivolianos são um dos muitos povos que o “Doutor” encontrou na sua exploração do espaço e do tempo e apresentam uma característica muito própria: querem ser subjugados e escravizados por outros povos. Na ausência de um dominador externo, os tivolianos mergulham numa espécie de crise existencial e começam a encorajar outros povos a conquistar o seu planeta e a dominá-los.
Se o “Doutor” visitasse a Guarda, depressa se aperceberia que, nas últimas décadas, a nossa cidade foi perdendo importância e capitalidade em relação a cidades vizinhas de idêntica dimensão. Depressa se aperceberia também que, entre nós, existem alguns guardenses que estão confortáveis com essa realidade. Tão confortáveis que chegam ao ponto de a defender publicamente ou de se refugiarem num silêncio incompreensível quando o futuro da Guarda e dos guardenses está a ser colocado em causa.
Quem não se recorda da ideia de fusão do IPG com a UBI ou da proposta de um Hospital Covilhã-Guarda, ambas sustentadas na premissa de que “o que é bom para a região é bom para a Guarda”? Que dirigente político da Guarda ergueu a sua voz perante o recente anúncio da intenção de abandono da CIMBSE dos três municípios do distrito de Castelo Branco por parte do presidente da Câmara Municipal da Covilhã?
O Hospital da Guarda vive um momento delicado e verdadeiramente incompreensível, sem os prometidos “tijolos” da conclusão das obras da segunda fase e com cada vez menos “miolos”. Mas a solução passa pelo protesto e pela reivindicação e não pela conformação e pela subserviência!
O IPG, mesmo desprovido dos apoios centrais e locais de que necessita, assume-se cada vez mais como o grande polo de desenvolvimento e inovação da Guarda. O número de alunos a ingressar na instituição tem vindo a aumentar de forma regular e o tecido empresarial e o setor social da região beneficiam agora de novos cursos, especializações e pós-graduações adequadas às suas necessidades e aos desafios de um mercado de trabalho cada vez mais volátil.
É esse o caminho: valorizar e apostar nas nossas instituições e valências, com a certeza de que o que é bom para a Guarda também é bom para as localidades vizinhas e para o nosso país. Ou então sempre podemos enveredar pela via alternativa e assemelharmo-nos cada vez mais aos tivolianos.
* Ex-presidente da Federação da Guarda do PS