Os primeiros sinais da doença de Alzheimer

Escrito por Luís Abreu

“É importante salientar que a maioria das pessoas com queixas de memória não tem doença de Alzheimer.”

Existem várias causas para demência, sendo a doença de Alzheimer a mais frequente. O risco aumenta exponencialmente com a idade, alguns estudos estimam que cerca de um terço das pessoas acima dos 90 anos cumprem critérios de diagnóstico de doença de Alzheimer. No mês em que se assinala o “Dia Mundial do Doente de Alzheimer”, recordamos os sintomas de uma doença que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, afeta cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo.
O sintoma inicial mais frequente é a dificuldade de memória, que interfere com as atividades diárias, nomeadamente nas relações familiares e sociais e no desempenho da atividade profissional. A memória episódica é a preferencialmente afetada nas fases iniciais da doença, a memória de eventos ou situações que ocorreram num determinado lugar e num determinado tempo. Na doença de Alzheimer, a memória episódica para situações recentes está profundamente afetada, ao contrário da consolidada por longos períodos de tempo em que os eventos mais antigos são recordados sem dificuldade. Nestes casos, as memórias mais remotas foram consolidadas durante o período em que as estruturas cerebrais, que estão envolvidas na doença de Alzheimer, mantinham um desempenho íntegro. Existe uma dificuldade em recordar um evento passado há uns dias e facilidade em recordar, com detalhe, um episódio passado há décadas, por dificuldade na aprendizagem e na evocação de uma informação recentemente aprendida. Os defeitos de memória evoluem e progridem lentamente ao longo do tempo, acabando por envolver, também, outros tipos de memórias e outras funções cognitivas.
De uma forma bastante simplificada, as pessoas com doença de Alzheimer apresentam um discurso repetitivo, com necessidade de perguntar várias vezes o mesmo, necessitam de mais tempo para completar tarefas, podem apresentar dificuldade de orientação espacial em lugares habituais e familiares, colocam objetos em sítios inapropriados, e podem ter alterações de humor e de comportamento sem razão aparente. Estes exemplos são percecionados como sendo fora do habitual, implicando uma deterioração em relação ao estado prévio e uma progressão dos sintomas ao longo do tempo.
É importante salientar que a maioria das pessoas com queixas de memória não tem doença de Alzheimer. As pessoas com defeito de memória devem ser avaliadas por um médico, porque existem várias outras causas, potencialmente reversíveis, que podem interferir no desempenho das funções cognitivas, nomeadamente na memória.
Alguns exemplos são as doenças da tiroide, efeitos adversos de alguns medicamentos, sintomas depressivos e de ansiedade ou outras doenças neurológicas. Adicionalmente, existem queixas de memória consideradas como não patológicas, ou seja, as que estão associadas ao envelhecimento e que não interferem com a capacidade de manter uma vida ativa e independente, de manter relações sociais, nem com a capacidade de desempenho laboral competente. Limitam-se a esquecimentos ocasionais e que são bem geridos pelos indivíduos, como a necessidade de fazer listas de supermercados e de deixar recados escritos.
Até 2021 não tinha sido aprovado nenhum medicamento para o tratamento da doença de Alzheimer, isso desde 2003, há quase duas décadas, e os fármacos existentes são armas terapêuticas que melhoram os sintomas mas não têm interferência na causa nem na progressão da doença. A Food and Drug Association (FDA), instituição reguladora dos medicamentos nos Estados Unidos da América, aprovou um novo fármaco para o tratamento da doença de Alzheimer, o Aducanumab, com potencial para atrasar a progressão da doença atuando na proteína beta-amilóide. Esta aprovação, no entanto, não foi unânime na comunidade científica, e ainda são necessários novos dados antes de ser aprovado na Europa. A instituição europeia, a Agência Europeia do Medicamento (EMA, European Medicines Agency) é a responsável pela futura aprovação do Aducanumab na Europa, e provavelmente emitirá um parecer até ao final deste ano.

* Neurologista do Hospital CUF Viseu

N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.

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Luís Abreu

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