Não há temas tabus. Lá isso não há. O cliché deste verão é, sem sombra de dúvidas, o comportamento pós escolha dos atores/ intervenientes/ candidatos à casa da democracia.
Dizer mal dos políticos tornou-se numa prática prosaica e corriqueira com êxito garantido na tal conversa da treta da mesa de café. Este discurso fácil, quiçá demagogo, repetitivo, um quanto (in)justo), faz de todos os protagonistas qualquer coisa como “farinha do mesmo saco”.
Neste espetáculo a que estamos a assistir, onde o jogo do empurra foi evidente e onde a ciência moral não deu lugar à ética e à razão, onde apenas o conceito do saloio Sancho Pança prevaleceu, esquecendo, ou talvez não lhes interessando adotar os comportamentos elevados do soft Cavaleiro de La Mancha.
É que não basta a Aristóteles adicionar ao conteúdo a sensibilidade, a imaginação, a ideologia, a reflexão e até a racionalização tecnológica, pois virá sempre Zweig afirmar que é de um jogo que se trata e, isto, sem esquecer o conceito popular que diz que ela (a política) é uma porquinha onde os recos mamam alternadamente.
Seguramente toda a classe política tem nisto sobeja dose de responsabilidade. Os partidos políticos vivem fechados no seu casulo hierárquico de colmeia sem perceberem o que de bom a sociedade tem e contém. A cegueira do poder obriga-os a serem assim. Está na sua génese servirem-se a si próprios e, aí sim, entram ordenados chorudos, benesses, famílias, empresas, num frenesim constante que os impede de olhar para o apodrecido sistema que nos vai lançando impostos, salários miseráveis, baixas pensões, ausência de respostas aos problemas sociais, numa atitude serôdia ao nepotismo e à corrupção.
Não se vai ao Chapitô apenas para ver o nariz vermelho do palhaço. Vai-se também para constatar a verdadeira dimensão social nessa ajuda desinteressada. A política tem regras e comporta riscos e, quando reparamos nas reviravoltas caninas da desfaçatez e calculismo cínico de alguns travecas, sou obrigado a dar razão a Danton: muitos dos políticos são charlatães ambiciosos que permanecem muito abaixo dos direitos do povo.
O político tem de ser honesto, interessado e justo, impondo a si próprio a componente legal e ética, defendendo a instituição que serve, tendo por finalidade o bem comum, onde a suspeita esteja permanentemente ausente, pois, em boa verdade, a audácia e o bonito discurso já não são, em definitivo, os elementos de decisão de todos os cálculos.
Cabe ainda aqui dizer que a origem da política é (quase) divina obrigando assim os protagonistas/ intervenientes a estancar as “fake news”, tantas vezes transmitidas nas tais redes sociais, onde muitos cobardolas têm voz, pois até aí nunca ninguém lha teria dado e, aí sim, vão expondo as suas cretinices, vulgaridades e contestações dando origem ao aparecimento de populismos exacerbados.
E depois vemos os tais guedelhudos que, de melena ao vento, nos tentam enganar: Kim, Trump, Johnson, Morales, Bolsonaro e isto sem esquecer o rabinho de cavalo de Iglésias, que vai fazendo birra para que “nuestros hermanos” não tenham governo.
Nesta crónica de Verão será agora necessário falar dos paraquedistas consentidos para se perceber que o salto em barra extrativa não resultou, estreando-se assim num outro bem mais arrojado: o de queda livre, tão bombasticamente justificado pela cândida argumentação pública. C’os diabos. Paraquedista que se preze é e será sempre paraquedista.
Imagine-se que a minha progenitora era americana, de New York. Com um pouco de sorte e a conivência do aparelho rosa lá do sítio arranjava forma de passar por lá arrebanhando os votos necessários para, em outubro, ser senador, prosseguindo desta forma a brilhante e auspiciosa carreira política.
Se para lá do Marão mandam os que lá estão, eu, beirão, de quatro costados me confesso e me revejo, hoje sim, no hino da bufa “Lá vamos cantando e rindo. Levados, levados, sim”. Na Guarda fomos, mais uma vez, muito bem “levados”… E de que maneira.