Quando os russos começaram a acumular tropas, canhões e tanques na Bielorrússia, junto à fronteira com a Ucrânia, os americanos avisaram da iminência de uma invasão. Em Portugal, os comunistas vociferaram contra a escalada bélica promovida pelo ocidente. Nem uma palavra sobre o que Putin, manifestamente, preparava. À medida que os meios militares russos junto à fronteira da Ucrânia aumentavam, sucediam-se os avisos americanos e os comunistas, nas redes sociais, faziam piadas sobre a invasão: “Já invadiram?”, “Ainda falta muito?”, “Vai ser amanhã, às 14h30?”. Tudo muito engraçado.
Quando a invasão começou, os comunistas insistiram nas culpas da NATO, recordaram todos os casos em que, na sua opinião, o Ocidente falhou, mas nem uma palavra a criticar a Rússia ou Putin. Entretanto, nos Estados Unidos, Trump achava a estratégia de Putin “genial”. Quando alguns comunistas de relevo conseguiram, a ferros, sugerir uma possibilidade de crítica à invasão, a esmagadora maioria continuou, nas redes sociais, a fazer o “post” anti-ucraniano ou pró-russo do dia. Ou a sugerir que a Ucrânia não passa de um covil de nazis, ou que não devia existir como país, ou que se deveria render (e por isso o derramamento de sangue era da sua responsabilidade). O massacre de Bucha era falso, não passava de uma orquestração do batalhão AZOV (o facto de estarem do outro lado do país era irrelevante: “estão por todo o lado”. A Rússia, pelo contrário, era um país “do caraças”, democrático, avançado, evoluído, uma inveja para o mundo.
Quando os interpelo, por exemplo quanto aos crimes de guerra em Bucha, citando uma reportagem do “New York Times” com largas dezenas de entrevistas a sobreviventes, fotografias, documentação, resolvem o problema com um “o New York Times escreve o que os donos mandam” e dão à troca artigos de opinião escritos por desconhecidos.
Entretanto, na NATO, os fascistas Orban e Erdogan bloqueiam sanções e impedem a entrada da Finlândia e da Suécia. Os comunistas concordam e são contra as sanções, contra o alargamento da NATO, contra a NATO.
Nos EUA, os republicanos alinham com Trump. Putin, dizem, não é o monstro que pintam. Um deles, o coronel e senador Richard Black, debita num vídeo disponível no YouTube a cartilha completa: é mentira que os russos tenham destruído Alepo, ou que tenham cometido crimes de guerra e, por aí fora, até à justificação da invasão da Ucrânia e a condenação das sanções ocidentais ou da política seguida por Joe Biden. Esse vídeo, como não podia deixar de ser, é entusiasticamente partilhado em Portugal por comunistas.
Surpreendidos? O partido republicano é cada vez mais fascista, Putin é fascista e o PCP alinha com fascistas. Hesito entre a surpresa e o nojo.