O sistema é uma coisa lamacenta onde se afoga a responsabilidade, uma maneira de construir ineficiências irresponsáveis, uma maneira inimputável de diluir a decisão de cada um. A construção do serviço é outra coisa. Tu serves as pessoas, responsabilizas-te pelas decisões, procuras soluções, entregas-te com o cliente. Por isso, hoje, o SNS é um sistema. O doente entra e não é meu. O doente vai para a lista de onde o repescam e distribuem. Só que os doentes deixam de ter um patrono, alguém que se preocupa com o seu caso, alguém que telefona ao colega que sabe mais, e pode trazer benefícios. No sistema usam-se papéis, escrevem-se documentos, descarregam-se comprometimentos. Tu agora estás no Sistema. Tu és da coisa pública e esta é um dinossauro comunista onde os números se colam à pele, onde os títulos desaparecem, onde os nomes se tuteiam de modo impreciso. Como clientes de lojas do Estado que retiram senhas e colam-nas no peito. A idiossincrasia é a essência da humanidade. As especificidades fazem toda a diferença e se formos geridos como gado, a vida correrá com acidentes desnecessários, com iatrogenia constante.