Começaram há quase três meses as obras para construção do novo Porto Seco de Salamanca, designado na gíria local por “Plataforma Intermodal Ferroviaria de Salamanca”. Esta infraestrutura, que poderá vir a ser uma séria concorrente ao Porto Seco da Guarda, foi adjudicada por 12,5 milhões de euros, fazendo parte da Plataforma Logística de Salamanca, que já tem em funcionamento pleno três outras áreas: Centro de Transportes de Mercadorias, Centro Aduaneiro e Polígono Agroalimentar.
Segundo a imprensa espanhola, o porto seco de Salamanca pretende impulsionar o transporte de mercadorias através do caminho-de-ferro, aproveitando a ligação estratégica de Salamanca e o seu potencial para captar fluxos de mercadorias entre Portugal, Castilla y León e o norte da Europa.
O prazo de construção previsto é de 14 meses, perspectivando-se a entrada em funcionamento para meados de 2024, havendo já protocolos com os portos de Aveiro e Figueira da Foz.
Neste aspecto os espanhóis mostram ao que vêm, onde, segundo a imprensa local salmantina, aquele porto seco «…aspira a convertirse en la terminal ferroviaria de referencia del Puerto de Aveiro y Figueira de Foz, y por tanto de los puertos de la fachada atlântica» – Julgo que não precisa de tradução!
ENTÃO E A GUARDA??? ENTÃO O PORTO SECO DA GUARDA???
Pois é, enquanto que deste lado da fronteira estamos à espera da concretização das obras da Linha da Beira Alta para depois se começar a fazer alguma coisa, os nossos vizinhos espanhóis aproveitam este tempo para construir infraestruturas que futuramente utilizarão os nossos recursos para alimentar as suas zonas logísticas.
A principal linha ferroviária que alimentará o porto seco de Salamanca é a mesma que alimentará o futuro porto seco da Guarda, com a diferença que em Salamanca já nos levam um avanço muito considerável ao nível de concretização desse projecto.
Sendo assim, das duas uma: ou o porto seco da Guarda deixa de fazer sentido porque o de Salamanca, levando a vantagem do pioneirismo, ocupa uma posição intermédia entre os portos atlânticos portugueses e Madrid, levando ao cancelamento daquele investimento na Guarda, ou então, o porto seco da Guarda passará a ser um equipamento pequenino, sem potencial estruturante e sempre na sombra do seu irmão espanhol, mais velho e mais desenvolvido.
Seja qual for o caminho a seguir, tanto o governo socialista que o apregoou, como o executivo autárquico guardense, que também lhe chama filho, deviam vir a público explicar o porquê de ainda não existir nado no terreno, nem tão pouco haver um cronograma que defina os principais trabalhos e metas a atingir.
Depois de, no passado, sofrermos com os erros e inércia aquando do lançamento da PLIE, exigia-se uma dinâmica diferente na Guarda, mas pelos vistos não se aprendeu nada.
É muito triste a nossa sina e, mais uma vez, ficamos a ver passar os comboios…
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos