O porquê de um pequeno aeroporto para a Guarda

“Construindo um aeroporto regional na Guarda, poder-se-ia dinamizar o turismo (Serra da Estrela, Douro, Aldeias Históricas, rotas, passadiços, etc.), o tecido empresarial (com forte aposta na logística e interligação com a rede rodoferroviária, plataformas logísticas e industriais e futuro porto seco) e a proximidade com a própria diáspora (basta ver o enorme número de emigrantes oriundos destes territórios raianos e que de forma crescente se desloca a Portugal por via aérea).”

Há precisamente 10 anos, num jornal local entretanto extinto, manifestava a minha sugestão/opinião relativamente à construção de um aeroporto regional para a Guarda. Esta visão que percorro desde há bastante tempo foi alavancada pela “Carta Regional de Competitividade da Beira Interior”, promovida pela Associação Industrial Portuguesa em 2008 e que preconizava a edificação de uma estrutura daquela natureza na região.
Nestes últimos 15 anos foram várias as localidades da zona Centro que reclamaram e algumas ainda reclamam uma estrutura aeroportuária para o seu território. Desde a Covilhã, que viu gorada essa pretensão com a instalação do “Data Center” no espaço do anterior aeródromo, passando por Leiria (Monte Real) ou Santarém como localizações alternativas ao novo aeroporto de Lisboa ou até Coimbra, cujo tema foi uma das promessas eleitorais das autárquicas de 2021, diversos concelhos do Centro de Portugal reconhecem a mais-valia em captar uma infraestrutura dessa natureza para a sua região.
No território continental, encontramos quatro aeroportos internacionais, nomeadamente Lisboa, Porto, Faro e Beja. Ora, para além dos três maiores, localizados no litoral, apenas o de Beja se encontra no interior, servindo em exclusivo a zona sul do país. A norte do Tejo encontramos apenas o “Francisco Sá Carneiro”, deixando uma enorme área geográfica não coberta, ao contrário do que acontece a sul.
Neste sentido, muitos argumentarão que estes nossos territórios não têm população que justifique tal investimento, no entanto, eu vejo as coisas pela perspectiva contrária. Construindo um aeroporto regional na Guarda, poder-se-ia dinamizar o turismo (Serra da Estrela, Douro, Aldeias Históricas, rotas, passadiços, etc.), o tecido empresarial (com forte aposta na logística e interligação com a rede rodoferroviária, plataformas logísticas e industriais e futuro porto seco) e a proximidade com a própria diáspora (basta ver o enorme número de emigrantes oriundos destes territórios raianos e que de forma crescente se desloca a Portugal por via aérea).
A disponibilização de voos regulares para, por exemplo, Paris (Orly), Bordéus, Toulouse ou Montpellier, Dusseldorf, Estugarda e claro, uma ligação diária a Lisboa, aproximariam esta região do Centro da Europa e permitiriam a criação de um ecossistema negocial, potenciador da dinamização destes territórios.
E custos??? Bem, estima-se que o novo aeroporto de Lisboa possa custar à volta de 8.000 milhões de euros. A expansão dos metros de Lisboa e Porto já passa dos 750 milhões. O novo hospital de Lisboa Oriental está orçado em cerca de 400 milhões. Tantos e tantos milhões que legitimamente são investidos no litoral, no entanto, não nos podemos esquecer que o país não é só Lisboa e Porto, pois, investindo no interior, estaríamos a contribuir para um país mais próspero, coeso e competitivo.
O aeroporto da Guarda, seguramente, estaria abaixo dos 100 milhões de euros, um valor perfeitamente acomodável em qualquer Orçamento de Estado e claramente inferior a muitas obras de utilidade duvidosa que pululam por esse país fora.
A construção de uma infraestrutura aeroportuária na região da Guarda é um investimento que a região necessita e do qual nunca deverá abdicar.

* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos

Sobre o autor

Ricardo Neves de Sousa

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