O ministro que já não o é

A continuação de Eduardo Cabrita no governo é uma vergonha para Portugal

Na próxima terça-feira, vai ser um Eduardo Cabrita com a corda ao pescoço que irá à Assembleia da República apresentar contas ao parlamento.

O ainda ministro da Administração Interna, que nos últimos dias deu provas da sua reconhecida soberba, poderá continuar no governo – como ele próprio afirmou, o seu lugar depende apenas do primeiro-ministro -, mas a verdade é que, mesmo considerando a conhecida teimosia de António Costa, será um ministro a prazo. Poderá sair da Comissão Parlamentar, com a sua prosápia e arrogância habitual, com funções ministeriais e até se pode arrastar no ministério por mais uns dias ou uns meses, mas Eduardo Cabrita já não é ministro, no sentido de poder decidir e ser respeitado enquanto tal. E por isso o Diretor da Polícia já se permite a dizer que o SEF será integrado na PSP, uma palermice que só pode ser dita pela falta de respeito para com o ministro da tutela…

Se a oposição exige a demissão do ministro depois de tudo o que se soube em relação à morte de Ihor Homeniuk, agora a exclamação já vai muito para além dos partidos – mesmo no PS já há muitos dirigentes que consideram que Cabrita não tem condições para continuar – é quase uma questão nacional: o homicídio de um cidadão ucraniano detido pelo Estado português é uma vergonha para os portugueses e que o ministro responsável pela pasta da segurança ainda venha regozijar-se pela sua atuação e tenha o descaramento de se exprimir como ele o fez em conferência de imprensa envergonha-nos e as consequências não podem ser outras que não a demissão.

Eduardo Cabrita acusou tudo e todos de estarem confinados quando ele estava a acompanhar toda a investigação sobre a morte Ihor. Referia-se nomeadamente ao “processo de averiguações” que mandou instaurar no SEF logo a 13 de março, porém, passados nove meses não retirou qualquer ilação, nem atuou em conformidade. Acusou os «jornalistas e comentadores» de andarem distraídos e agora falarem porque ele afastou a diretora do SEF, o que é uma enorme mentira, pois Cristina Gatões caiu no seguimento do trabalho jornalístico e das perguntas sem resposta (do ministro e da direção do SEF) nomeadamente do Diário de Notícias. E agora o ministro perdeu todo o respeito pela arrogância com que falou aos portugueses sobre um crime escandaloso e uma inércia inaceitável num Estado de Direito. E porque a SIC falou com uma viúva abandonada por um estado que lhe matou o marido e olhou para Portugal com um olhar que não queríamos ver… Podia ainda acrescentar que o sistema falhou, mas falhou especialmente por culpa de Eduardo Cabrita.

Antes que os pingos molhem António Costa e até Marcelo Rebelo de Sousa, Eduardo Cabrita devia sair pelo seu pé. A sua continuação no governo é uma vergonha para Portugal.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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