Pedro Russo, professor da Universidade de Leiden, na Holanda, escreve na revista “Electra”, nº 12 página 196, «a ciência precisa de dar passos concretos no sentido de incentivar a tomada de riscos e de encorajar abordagens criativas, tais como publicar não resultados, partilhar propostas de financiamento falhadas, e tornar diferentes resultados científicos disponíveis para todos». «(…) é necessário que se deixe de considerar a ciência como um empreendimento não criativo e que se reconheça que esta tem em comum com a arte muitos aspetos que empregam e promovem a criatividade».
Isto vem a propósito da ciência dependente de subsídios, da ciência dependente de prémios, da ciência onde o financiamento se reporta aos resultados, o que leva alguns a forçar conclusões, a retirar negativismo das conclusões, a eliminar os fracassos. A ciência nunca pode ser ausência de erros e ausência de falhas e de bocejos fastidiosos, sendo sobretudo surpresa em muitas das suas evoluções. Obrigar a uma reinvenção do financiamento onde se acrescenta criatividade e ousadia pode ser uma solução.
A tecnociência foi a ditadura da pandemia, levada no bolso dos ideólogos do medo como pilar dos comportamentos desejados, fazendo um lego de cada dia mais medo, cada dia mais terror, cada hora mais desconfiança. Encontrei o regresso do desejo das sevícias, da punição severa como mecanismo de conter os rebeldes, parar os discursos críticos, envergonhar a divergência tudo tão falado por Foucault há várias décadas em “Vigiar e Punir – Nascimento da Prisão” (edições 70 – março 2020). Os seres humanos não mudaram e a pandemia trouxe muito do mais feio que há dentro deles à superfície. Também houve bons exemplos e maravilhosos gestos obviamente.
O medo pandémico
«A ciência nunca pode ser ausência de erros e ausência de falhas e de bocejos fastidiosos, sendo sobretudo surpresa em muitas das suas evoluções»