Foi assim que o cientista francês Jean-Baptiste Biot descreveu Henry Cavendish, uma das personalidades mais pitorescas da história da ciência. Neto do duque de Devonshire, pelo lado materno, e do duque de Kent, pelo lado paterno, Cavendish cresceu no seio de uma família abastada, o que não o impediu de mostrar pouco interesse pelo dinheiro, gastando a maior parte em montagens experimentais e livros.
De costumes no mínimo frugais, tinha um único fato (que trocava por outro igual quando deixava de poder usá-lo) e comia sempre o mesmo prato, uma perna de borrego, salvo nas raras ocasiões em que recebia visitas (nessa altura eram duas pernas de borrego). Quando era jovem, o seu banqueiro aconselhou-o a investir as 80.000 libras da sua conta corrente, uma quantia nada desprezável naquela época. Cansado da insistência do financeiro, Cavendish respondeu-lhe com mau-humor que não o aborrecesse e que fizesse com o dinheiro o que lhe parecesse oportuno.
Em termos científicos, das diversas investigações e descobertas realizadas por Cavendish a mais significativa prendeu-se com a compreensão que a água era uma substância composta por oxigénio e hidrogénio. Corria o ano de 1781 quando Cavendish avançou com esta ideia, desmontando a opinião existente até à data de que a água era um elemento químico básico. Outras áreas de estudo de Cavendish passam pela determinação da composição da atmosfera ou pela invenção de uma balança muito precisa.
A natureza, que tão pródiga se mostrara com Cavendish em tantos aspetos, foi bem mais tacanha noutros: os seus excecionais dotes intelectuais contrastavam com as suas nulas aptidões sociais, o que o transformou no paradigma do cientista “estranho” (hoje diríamos que era um “nerd”). Extremamente tímido, era raro sair de casa e, sempre que possível, comunicava com os criados através de bilhetes. Parco em palavras, parece que quando se encontrava com uma mulher que não conhecia era capaz de tapar os olhos e fugir a correr. Comportamentos sem dúvida peculiares, mas que, segundo Oliver Sacks, teriam uma explicação médica: num artigo publicado em 2001, o neurologista britânico avançou a hipótese de o cientista sofrer de síndrome de Asperger.