1. Depois de anos a bater no Serviço Nacional de Saúde (SNS), eis-nos entregues à capacidade e à qualidade dos profissionais do SNS; depois de anos a assistirmos ao desinvestimento no SNS, agora todos exigimos o melhor dos serviços públicos de saúde; anos e anos a sermos empurrados para os serviços de saúde privados, ora porque nos diziam que eram melhores (com os médicos do público), ora porque eram melhor geridos (sugando ao Estado o que podiam nos acordos e contratos de prestação de serviços, quase sempre controlados por políticos que jogam em muitos tabuleiros e, quase sempre, fazem lobby pelos interesses de empresas que faturam milhões ao estado e facilmente distribuem uns tostões por deputados e políticos promíscuos).
Com a pandemia do Covid-19 (de que já falei muitas vezes, e de que hoje me dispenso de fazer outros comentários, até porque, nesta edição, temos o privilégio de publicar a opinião do Diretor de Serviços de Medicina do Hospital da Guarda, João Santiago Correia, e do Delegado de Saúde da Guarda, José Valbom, que por estes dias tem andado a correr entre Foz Côa, Trancoso ou Seia a fazer testes e zaragatoas… e fazem parte do “restrito” grupo de profissionais que na região trabalha com o serviço Covid-19) percebemos pelo menos duas coisas: que o nosso SNS é muito melhor do que aquilo que por aí se diz; que o Estado é essencial para o equilíbrio social, para a salvaguarda das pessoas e da economia, e que, perante uma tragédia, um Estado forte é determinante para nos salvar. E descobrimos uma terceira evidência, que não sendo relevante, é importante para o nosso ego (num país de alma pessimista e onde os “velhos do Restelo” começam todos os discurso afirmando que “Portugal é um país terceiro-mundista”): fomos um dos países a nível mundial que melhor respondeu à pandemia do novo coronavírus – e afirmo-o de forma categórica, mesmo não tendo dúvidas de que os próximos dias serão decisivos e o números poderão disparar, e quando sabemos que já há um médico infetado no Hospital da Guarda (em caso de dúvidas analise-se a incompetência, a falta de planificação e irresponsabilidade do governo espanhol, veja-se a incapacidade dos Estados Unidos, o laxismo francês ou a leviandade inglesa, entre outros).
2. Internacionalmente, muitos têm duvidado dos números baixos de contágios por coronavírus em Portugal. Não há milagres! O que tem havido é muita seriedade na forma como a generalidade dos portugueses tem vivido o momento. Ainda que muitos clamem pelo caos, ele não ocorreu e provavelmente não irá ocorrer. Vivemos um período de exceção, e excecionalmente tem havido competência nas decisões, resposta adequada, profissionais de todos os sectores envolvidos de forma extraordinária – dos técnicos de saúde aos agentes de segurança. Fragilidades e falta de meios, afinal, encontramo-los em todos os países, em Portugal, talvez com a lição aprendida nos incêndios de 2017, a reposta à pandemia tem sido competente. Um país a diferentes velocidades, mas com uma determinação única. Falta agora ter capacidade e apoio europeu para fazer frente às dificuldades económicas que irão afetar, como nunca, o nosso futuro imediato.