Estando o país a pouco mais de trinta dias das eleições legislativas, já não deverão surgir grandes novidades relativamente ao que os diversos partidos têm apresentado como ideias e propostas para o nosso futuro coletivo. Tudo bem espremido, é mais do mesmo. Debates de ideias, de ideias que contêm mesmo, zero! As campanhas eleitorais foram-se reduzindo a umas frases produzidas pelas agências de comunicação, a serem repetidas pelos candidatos dos diversos círculos eleitorais. E trouxeram-nos até aqui, até isto.
E isto são os Tratados Europeus, sobre os quais o povo nunca foi chamado a pronunciar-se. Ou as políticas do «pacto de estabilidade e crescimento», da União Bancária, as tais que se traduzem em salvar bancos em troca da falência das vidas dos cidadãos. Ou a redução do investimento público e a degradação dos serviços, de todos. Ou o não se querer resolver mesmo o problema da corrupção e da real falta de transparência que infeta as almas e as nossas instituições. Ou o não se querer discutir a sério a forma de a Justiça ser muito mais eficaz a lidar com tudo isto. Ou mais mil e uma coisas diferentes de que queiram falar.
Não espanta por isso que o órgão legislativo se encolha, o superior magistrado da nação se pavoneie, e o povo se prepare para mais uma sessão de foguetório. O mundo das sombras é demasiado perigoso para não perceber o que há por detrás destes muros da vergonha. Ninguém fala da manutenção de uma dívida pública bruta a um nível gigantesco, um investimento público miserável ao nível de 2003, uma dose de cativações inacreditável fazendo lembrar os anos 30 do século passado e, sobretudo, de um Estado caloteiro que deve dinheiro a tudo e a todos, desde transportadoras de estudantes, fornecedores de livros escolares, fornecedores hospitalares, etc., devendo, para finalizar, mais de 160 milhões de euros ao próprio Fundo de Estabilização da Segurança Social!
O crescimento da economia, apresentado como um sucesso por ser superior ao da média europeia, é confrangedor, uma vez que estamos na verdade a caminho do último lugar europeu, sendo sucessivamente ultrapassados pelos poucos países ainda abaixo de nós. A média europeia, essa, é baixíssima por estar a ser puxada para o fundo pelo comportamento anémico das grandes economias da França, da Itália e agora da própria Alemanha, fazendo prever uma nova crise. Mas, numa reedição patética da “teoria do oásis”, é-nos dito que Portugal está a fugir a essa crise. Quando afinal, como Ernâni Lopes ensinava, o que se passa é que, face aos seus atrasos atávicos e dependência excessiva do Estado, a nossa economia demora mais tempo a entrar em crise, mas esta é depois mais profunda e demoramos mais tempo a sair dela, e ainda mais a recuperarmos até ao ponto em que estávamos antes…
E, por fim, que dizer do nosso distrito? Perderam-se quase 12 mil eleitores! Com este despovoamento, o número de deputados passou de quatro para três.
Em concelhos como Figueira de Castelo Rodrigo, Manteigas, Pinhel, Aguiar da Beira, Almeida, Fornos de Algodres, Gouveia, Seia e Sabugal já há mais pensionistas do que trabalhadores, sendo que a percentagem de pessoas aposentadas atinge valores entre 101 a 141 por cento.
Ou seja, depois de tantos anos a ouvir falar de planeamento e de estudos regionais, de apoios a empresas, de investimentos no interior, de tantas outras tangas, é este o resultado? Foi para isto que os mesmos de sempre nos prometeram mundos e fundos?
Agora falam de descentralização, uma forma não assumida de regionalização, a qual tem, como era de esperar, o aval de autarcas que aproveitam o momento para querer fazer esquecer as Comunidades Intermunicipais que foram por eles apresentadas como a panaceia para todos os atrasos regionais, e que deram naquilo que todos sabemos. É mais uma tentativa para se criarem ainda mais lugares políticos e uma imensa camada de funcionalismo para os “boys” dos aparelhos partidários, mormente aqueles em fim de carreira!
De uma coisa podem ter a certeza: votar, até vou. Mas tenho um recado para esta gente: é mais fácil irem a pé à lua do que obterem esse meu voto! À primeira todos erram. À segunda só erra quem quer. E à terceira só erram os burros. Os de duas patas, entenda-se!