O Jornal O INTERIOR caminha para o seu vigésimo primeiro ano e, neste contexto, estreamos hoje algumas alterações gráficas, alguns ajustamentos e atualizações, no jornal em papel e também em ointerior.pt. Ao mesmo tempo, iniciam colaboração o deputado e vice-presidente da bancada parlamentar do PSD Carlos Peixoto (o nosso espaço de crónica política não estava ocupado na área social-democrata desde que Ângela Guerra deixou de ser deputada) e o investigador Francisco Manso que, todos os meses, nos irá ajudar a conhecer melhor personalidades e “estórias” da nossa região – numa rúbrica que será de grande interesse público e comprovada relevância da imprensa regional: contribuir para a divulgação da história e da memória coletiva. Porém, as mudanças ensaiadas vão ficar muito aquém do pretendido: o período que vivemos não é de celebração, nem de otimismo, é um tempo de tragédia e dúvidas, de adiamento e sobressalto.
Num momento em que Portugal atinge o funesto primeiro lugar mundial, por milhão de habitantes, em novos contágios diários e caminhamos para a liderança de número de mortes por Covid-19, confirma-se o pior: não soubemos gerir a resposta à pandemia e não fomos coletivamente capazes de assumir o confinamento como o caminho para estancar a propagação da pandemia. A culpa é do governo e é de todos. A demora em reagir à escalada descontrolada, o relaxamento no Natal, a incapacidade de previsão dos governantes e o laxismo generalizado levaram a que a dimensão da tragédia já não possa ser escamoteada. Nas duas últimas semanas morreram mais de duas mil pessoas em Portugal com o novo coronavírus. Morreram essencialmente pessoas idosas e debilitadas, a quem a vacina não chegaria a tempo – repito que deviam ter sido os mais idosos os primeiros a ser vacinados (e também o Presidente da República e os governantes) – e que não resistem à velocidade do contágio. Agora, é correr atrás do prejuízo. É ir a reboque dos acontecimentos. E os acontecimentos são muito graves: as próximas semanas serão decisivas, o número de contágios e mortes vais ser ainda mais impressionante, e Portugal vai ser a referência mundial da incapacidade e da incompetência na contenção do vírus e no combate à pandemia (os resultados dos últimos dias são muito piores do que os da América de Trump ou do Brasil de Bolsonaro… mas parece que a generalidade dos portugueses ainda não deu conta, talvez porque passemos o tempo a ver televisão e a ver a televisão que mostra mais a tragédia alheia que a própria!). E porque somos permissivos com os governantes que não tiveram capacidade de antecipar a tragédia nem a arte de a conter e contrariar – agora é tempo de combater a pandemia, mas quando for o momento de analisar a inépcia e a responsabilidade pelo caos a que chegámos, António Costa, Marta Temido e o governo no seu todo deverão ser responsabilizados.
Se a primeira fase da pandemia passou de “raspão” pelo interior, com a região a conviver bem com o confinamento e os surtos a serem razoavelmente controlados, graças a um excelente trabalho de todos, em especial dos autarcas e do pessoal médico envolvido, e o medo da população que ficou em casa, nesta fase (segunda ou terceira?) tudo está a falhar também no interior.
Com metade dos concelhos em risco extremo, a taxa de incidência cumulativa em 14 dias, entre 30 de dezembro de 2020 e 12 de janeiro de 2021 tem o seguinte top cinco nacional: Cuba 5658; Mêda 4600; Figueira de Castelo Rodrigo 4208; Aguiar da Beira 4106; Fornos de Algodres 3887 casos confirmados por 100 mil habitantes. Ou seja, os cinco concelhos com mais elevada taxa de incidência a nível nacional estão no interior, quatro no distrito da Guarda. Os portugueses estão em negação e já nem ouvem as notícias, mas é urgente redobrarmos os cuidados. Fique em casa!