Uma estranha conversa entre mim e um familiar versou a temática intranquila e emocional da morte em casa. Ela vai morrer! É inexorável porque surgiu uma lesão que já não podemos tratar e já não podemos contornar. Eu queria que ela fosse para casa com algum apoio porque o melhor para a Josefa é carinho e o afeto da família. O pior são as horas de espera num lugar desconhecido, entre desconhecidos que ajudam, mas não amam. Disse-me ele que ela não queria ir para casa. Falei com Josefa que me disse que achava que ele não era capaz de a levar. Chamei-o. Falámos sobre os olhos que mostram as almas. Falámos sobre o máximo egoísmo dele não estar preparado para a morte dela. Quem sofre, quem está mal é Josefa. E as complicações? A única e brutal é a morte – a dela, que sabe que vai morrer. Morrer numa instituição é uma coisa triste, onde não está quem amamos junto. Morrer com a mão de alguém transporta o carinho, a tranquilidade de não estar só. Hoje as famílias rejeitam a compaixão e a solidariedade nos momentos últimos. A dor trata-se com adesivos carregados de analgésicos, a sede com soros, os vómitos com sondas, o que não se trata é o medo do fim, a ausência do amor. Impressiona-te? Claro! E ela que perece? Ela não quer ir porque os teus olhos são a montra do teu peito. Nele dorme um egoísmo feroz que te impede de estar junto da dor dela, da morte que chega à Josefa só.