A proximidade das eleições europeias devia ser motivo para discutirmos a Europa e o futuro. Porém, olhamos para o Parlamento Europeu como algo distante, sobre o qual não temos grande curiosidade, a não ser o facto de se pressupor (e ser verdade) que o lugar de deputado europeu é muito bem pago (em especial considerando o rendimento médio dos portugueses, mas que está de acordo com o parâmetro médio europeu em que os políticos são, na generalidade, bem pagos – ao contrário do que ocorre em Portugal, e depois queixamo-nos que os políticos são corruptos). Aprofundar a Europa, num tempo em que o Reino Unido poderá sair da União, se o “Brexit” se confirmar, é uma discussão que, quase sempre, vai sendo secundarizada em relação aos interesses nacionais.
A Europa comunitária, mesmo com as suas contradições e os seus “defeitos”, é a maior construção do “velho continente” no século XX, enquanto espaço de desenvolvimento social, económico e cultural. É também um espaço de oportunidade, de crescimento, de liberdade e democracia, e um espaço de paz – nunca a Europa viveu tantos anos seguidos em paz como desde que a União juntou nações historicamente desavindas. E Portugal, desde que entrou para a União Europeia, mesmo com as muitas fragilidades e desigualdades de que ainda enferma, transformou-se de forma extraordinária. Portugal é hoje um país moderno e com níveis de desenvolvimento humano – social, económico e cultural – excelentes, e que são resultado da integração europeia, da partilha de riqueza, de desenvolvimento de um projeto comum. Um país com uma enorme falta de coesão territorial, com um fosso impressionante entre litoral e interior, entre Lisboa e o resto do país, mas, ainda assim, um país que se transformou imenso, que sofreu uma metamorfose excecional impulsionada pelos fundos comunitários e, ainda mais, pela matriz modernizadora que a Europa representa – ainda que tantos continuemos a duvidar do sucesso da nossa integração, e até haja tantos movimentos e partidos que clamam pela defesa da saída da Europa.
Portugal irá eleger 21 deputados para um parlamento onde as “sensibilidades” regionais têm pouca relevância e o mais importante é o aprofundamento da integração europeia e a defesa dos interesses nacionais. Mas onde as regiões periféricas, ainda que com pouco peso, precisam de ser defendidas. Álvaro Amaro será o “representante” do interior, num mandato em que Miguel Viegas, originário dos Trinta (Guarda), eleito há cinco anos pela CDU, deixa Bruxelas. Defender os territórios de baixa densidade e a majoração de medidas que possam contribuir para estancar o despovoamento das regiões periféricas e a promoção da coesão territorial têm de ser as primeiras opções da Europa dos próximos anos. O PS irá vencer com diferença (deverá ter 10 mandatos), com a imagem do partido moderado e responsável (como se viu na farsa da “crise política” da última semana); o PSD, depois de uma enorme aproximação, vai perder pontos pela surpreendente inabilidade de Rui Rio (porque depois de se juntar à extrema esquerda, recuou ainda que diga que não, fazendo dos portugueses tontos, como sempre, por culpa da comunicação social) e porque se vai votar também pela análise à vida política nacional (mas deverá conseguir eleger 6 a 7 deputados); a CDU, o Bloco e o CDS deverão manter a representação de há cinco anos, Marinho e Pinto vai desaparecer do PE e falta perceber se o Aliança (de Santana Lopes) conseguirá eleger Paulo Sande.