Magalhães

Escrito por Diogo Cabrita

“Se interferimos com o publicado e atacamos o responsável, construímos barreiras à liberdade.”

Uma certeza destes tempos é a força da rede social, a importância da Internet para processar informação, garantir notícias, ter a certeza que a liberdade ainda está por aí. Se interferimos com o publicado e atacamos o responsável, construímos barreiras à liberdade. O problema está nos excessos de exposição, na desenfreada demência que separa a morte em direto da nudez do vizinho, ou a exposição descarada, ou a vingança com imagens usurpadas. Neste quadro surge o que é a verdade. O que é a realidade e as suas interpretações. A realidade é sempre única, mas o lugar e a forma como a vemos é múltipla e contextualizada. Um ignorante olha Picasso e não o reconhece, como um fanático destrói Petra ou a Pietá. Todo o fanatismo é desprovido de sabedoria e da tranquilidade que brota da construção alicerçada em leitura e experiência e cruzamento de versões da abordagem do real. Uma florista, um performer, um engenheiro, um trapezista, uma cabeleireira e um farmacêutico transportam conhecimentos à reunião do prédio que hoje discute onde colocar o elevador. Mais acesa será a discussão do jardim. Mais dificuldade nas cores das janelas. Um deles de tarde deixou farpas ao do 1º andar na rede social. Desentendidos foram à reunião onde se exaltaram. Não devia ter escrito? O administrador devia ter apagado? Precisava ter exposto a opinião ao mundo? Eles usam a rede para negócios e para filmes e aventuras. A rede é como um espaço por onde abrem a existência dos humores. Como um novo vaso por onde jorra sangue, bílis, urina, ou seja lá o que for. Nas eleições isto ganha cheiro a peixe, reduz a discussão à insinuação e à perfídia.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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