Segundo regras gerais da União Europeia, e tal como acontece em Portugal, um cidadão de outro país europeu precisa de se registar se permanecer mais de três meses na Lituânia. Como bom português, passou-me pela cabeça que a minha chegada não está registada, e se for interpelado, direi sempre que cheguei a semana passada. Mas como visitas a serviços governamentais eram uma das excepções ao isolamento compulsivo a que o governo lituano me condenou, decidi submeter o meu pedido para obter um documento de autorização de residência. Sempre eram duas manhãs em que poderia sair de casa legalmente.
Para iniciar o processo, diz o site oficial dos serviços de migração, deve-se carregar o documento do organismo que nos emprega ou nos convida a estar na Lituânia. Preenchi a minha informação, carreguei a carta de convite que a Universidade Técnica Gediminas de Vilnius enviara para mim e para a UBI, e marquei visita aos escritórios da Migracija, que, para meu espanto, abriam às 7h30 da manhã.
Dois dias antes da visita, um email informou-me que a carta tinha de ser redigida em lituano e não em inglês. Porque, obviamente, seria muitíssimo natural que os serviços da UBI recebessem correspondência em lituano. Contactei os serviços da Universidade Técnica de Vilnius, que muito diligentemente me enviaram a mesma carta em lituano. Carreguei novamente a carta no idioma local.
No dia da visita, pelas 8h30, recebi um telefonema a dizer que afinal aquela carta não servia. Não era a carta convite que era necessária, era necessário um documento a comprovar que eu já estava em Vilnius a convite da universidade. É a diferença estatutária entre “vai cá estar” e “já cá está”. Cancelei a visita, marcada para daí a três horas, e pedi que me fizessem o documento devido. Em lituano.
Recebi o documento, voltei a carregar, voltei a agendar nova visita. Fui atendido, e pediram-me o original. Como assim, o original? É preciso trazer o documento original. Não tenho o documento original, foi-me enviada só a digitalização. Então o pedido terá de ser recusado.
Saí, indeferido. Tive saudades da burocracia portuguesa. Como emigrante ilegal, senti vontade de me juntar à mafia bielorrussa.
Nuno Amaral Jerónimo está em Vilnius a convite da Vilnius Tech University
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia