As autárquicas

Escrito por Albino Bárbara

«Afinal, o Carnaval na Guarda vai mesmo continuar aguardando-se ansiosamente pelos inúmeros capítulos desta telenovela que aí vem, sem qualquer final à vista»

A lei que regulamenta a eleição para as autarquias locais diz que a data da realização varia entre os dias 22 de setembro e 14 de outubro, competindo ao Governo a sua marcação.

Todos sabemos que por mais conhecido ou reconhecidos que sejam os candidatos há necessidade de calcorrearem todas as freguesias, anexas, lugares, lugarejos, clubes, associações, cafés, tascas e tasquinhas, nesta viagem concelhia de comes e bebes e até o mais cético dos crentes passa a frequentar adegas, festarolas, missas, procissões, casamentos, batizados, funerais com o único objetivo: caça ao voto. Os anarcas nesta matéria têm completa razão: «O que eles querem é a tua carcaça, eleitor».

A pandemia, finalmente, dá sinais de abrandar. O Governo vê-se agora na obrigação de elaborar um verdadeiro e responsável plano de desconfinamento que passa pela retoma de todas as atividades do nosso dia-a-dia. Assim sendo, as eleições autárquicas não podem nem devem comprometer as metas traçadas para a proteção da saúde pública e, se tudo evoluir como o previsto, não há qualquer razão para que as mesmas não sejam realizadas num dos domingos previstos em lei.

Objetivos mais que confessáveis tem o líder do PSD, que joga o tudo por tudo, sabendo que parte em completa desvantagem: 98 presidências laranja para as 161 presidências rosas, e isto sem esquecer que vem de duas pesadas derrotas (europeias e legislativas), uma semivitória ou semiderrota (copo meio cheio ou copo meio vazio): pela primeira vez desde 1974 perde a maioria absoluta no arquipélago da Madeira e patrocina aquele arranjinho estapafúrdio, levando o escarro às costas com vista a alcançar o poder nos Açores. Finalmente, já não era sem tempo, dá um ar da sua graça, convidando Carlos Moedas, indiscutivelmente um interessantíssimo candidato (está à altura de Medina), para concorrer à Câmara Municipal de Lisboa.

As autárquicas revelam-se de extrema importância na vida política nacional e se um dia António Guterres bateu com a porta, Rio, conhecedor do princípio “a história repete-se”, vai esfalfar-se para que tal não aconteça. A ver vamos…

Também por cá é tempo de darmos uma vista de olhos pelas apostas autárquicas no nosso distrito e região. Nos 14 concelhos do distrito e nos outros três que connosco constituem a CIM das Beiras e Serra da Estrela tudo indica que a grande maioria está em condições de segurar as respetivas cores partidárias. Só por exceção ou surpresa é que tal não acontece.

Aguiar da Beira, Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Gouveia, Manteigas, Meda, Pinhel, Seia, Trancoso, Covilhã, Belmonte e Fundão é (quase) certo e sabido que poderão manter o status partidário. Já no Sabugal, com a saída de Robalo, a disputa entre Vítor Cavaleiro e Vítor Proença, ou mesmo Luís Serra (as sondagens dizem que este último é favorito), poderá resultar num belíssimo confronto. Em terras raianas, os de rosa ao peito fizeram ótima escolha. Foz Côa, por seu turno, com o términus do mandato de Gustavo Duarte, será uma autarquia que pode muito bem mudar de mãos. Para tanto basta os rosáceos entenderem-se. Celorico da Beira, é aquela que tem mais probabilidade de trocar de cor, isto por completa inércia do laranjal (para não lhe chamar outra coisa) ao longo destes três anos. Desta vez, José Albano Marques têm todas as condições para levar de vencida a eleição no concelho mais central do distrito.

Dito isto, deixei para último uma pequena reflexão acerca da capital de distrito.

O Carnaval (que não tivemos, fruto da pandemia) vamos vivendo-o aos poucos, quase de forma permanente, com o alto patrocínio do laranjal numa telenovela com episódio dignos de uma quase trágico-comédia de Antígona, em que as malévolas Erínias abriram a arca de todos os males, trocando o ministério do amor pelo gabinete do ódio, que, com todo o ranço moralista, abandonaram o clube do Noddy, todos eles devidamente identificados e escolhidos pela personagem que um dia embonecou a cidade e, na primeira oportunidade, deu de frosques, dividiram-se, apostando uns no bairro do Arlequim das oportunidades, outros na freguesia do Pinóquio de pica-pau alaranjado e ainda outros no lugarejo do Burantino, declamando, todos eles, e em uníssono, o bendito poema de Alberto Pimenta, trazendo a público, através das ondas hertzianas, que oportunisticamente lhes vão dando voz, um chorrilho de lugares-comum, enquanto esperam pela decisão que, segundo o pregador Silvano, será tomada dentro de duas semanas. Assim, excluindo, à partida, uma terceira via e, seguindo a velhinha logica da batata: um ganha, outro perde, as perguntas são inevitáveis: O que perde vai ficar quieto, impávido e sereno? Ou irá alinhar nas teses independentistas e pseudo municipalistas dos Moreiras, Isaltinos e Cª Ldª?

Seja como for, a calmaria reina pros lados dos da rosa ao peito, onde Monteirinho espera, junto à loja chinesa, para perceber qual o tipo de cola que deve comprar: supercola 3 ou a mais barata, cola de marca branca, proveniente de Taiwan, para posteriormente a aplicar na colagem dos cacos do escaparate laranja, agora completamente escaqueirada.

Afinal, o Carnaval na Guarda vai mesmo continuar aguardando-se ansiosamente pelos inúmeros capítulos desta telenovela que aí vem, sem qualquer final à vista.

É assim, deste modo, que por cá se vai desenrolando o processo autárquico, isto a pouco mais de meio ano das eleições, Chegando-se facilmente à conclusão que há Farpas que assentam que nem ginjas aos nossos Chega(dos) políticos O povo tem suprema razão: realmente há coisas que nunca mudam.

Sobre o autor

Albino Bárbara

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