Esta é daquelas semanas em que há tanto para dizer e tão pouco espaço para contar.
André Ventura disse que Passos Coelho um dia será apoiante do Chega. Não é surpresa, tal desejo, porque é público o amor de Ventura por coelhos de ambos os sexos. (Não, leitor, não é de ambos os géneros, porque diz quem percebe que os géneros são atribuições e construções, e não vejo como é que um coelho possa fazer tal coisa)
Esta excitação de Ventura veio de uma declaração de Passos Coelho que misturou imigração e insegurança. À direita, aplausos. À esquerda, apupos. Nada de novo. O Partido Socialista continua, nesta campanha, a acusar o governo de Passos por ter cumprido um acordo internacional com que o PS se comprometeu. Os socialistas não perdoam a gente que cumpre promessas.
Pedro Nuno Santos disse que o PS andava na noite, o que também não surpreende ninguém, já que as suas declarações têm a mesma constância de dois amigos já tolhidos à saída de uma discoteca. “Chamamos um táxi?”, “Boa ideia, caminhar faz bem”.
Mariana Mortágua quis assustar o país com a expressão “rios de dinheiro” que correm de contribuintes privados para alguns partidos mais à direita. O “Público”, sempre diligente com o luso-trotskismo, correu a desvendar os negócios do Chega. O populismo radical parece que só pode ser usado à direita. Partidos revolucionários que promovem o ódio classista e a estigmatização dos ricos (para o BE, qualquer pessoa que ganhe cinco mil euros ou arrende uma casa já é um milionário), que sonham humidamente com erosão das sociedades democráticas ocidentais (ou que participam activamente assim que a oportunidade lhes é oferecida), na novilíngua da política contemporânea nunca são populistas, nem extremistas, nem radicais.
Luís Montenegro não disse nada de especial, por que aquilo que mais lhe perguntam, ele não responde. Confesso que me irrita solenemente ver o senhor não responder e não se calar quando os jornalistas lhe dizem “não me está a responder à questão”. (Infelizmente, “solenemente” é um advérbio pouco usado com outros verbos. Proponho conjugações vocabulares como “espirrar solenemente”, “trabalhar solenemente” ou a que julgo ter mais potencial, “rir solenemente”). É verdade que já disse “não é não” ao Chega. Mas podia dizer o mesmo a um governo minoritário do PS.
Como esta coluna não é escrutinada pela Comissão Nacional de Eleições, não tenho nada para dizer sobre o PAN, sobre o Livre ou sobre a IL. Quer dizer, sobre a IL tenho. Eu também sou a favor da privatização dos canais de televisão, nomeadamente da SIC e da TVI. Sobre a Caixa Geral de Depósitos tenho a mesma opinião que tenho sobre a Igreja Católica. Os fiéis e os praticantes que se pronunciem, que eu não faço parte da congregação.
Sobre o PCP, agora que passaram dois anos sobre a invasão da Ucrânia pelas tropas da Federação Russa, confesso que admiro a puerilidade de quem, perante os factos mais do que conhecidos e relatados durante dois anos, continua a acreditar que “a única maneira de conseguir a paz é não fazer a guerra.” Num dos debates, um interlocutor perguntou a Paulo Raimundo, “isso está tudo muito certo, mas e se um país é invadido?” Resposta do secretário-geral, “então, não se invade”. Prémio Nobel da Lógica para Raimundo. E se não for muito incómodo, um funcionário do PCP que envie essa missiva para Moscovo. “Então? Não se invade.”
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia