Inclusive

“Esta guerrilha contra os plurais, como se vê na frase citada, não só parece fazer muito sentido para quem a trava, como aparenta ser o mais importante que se pode fazer pelos direitos das mulheres e das minorias. “

Uma colunista do diário “Público” escreveu no início desta semana a seguinte frase: [A palavra) «“todos” não representa todas as pessoas». Como? “Todos” não representa todas as pessoas? E será que “todas as pessoas” representa todos?
É verdade que Carmo Afonso não tratava de lógica, mas de “linguagem inclusiva”, que é uma batalha contra a gramática, essa terrível invenção patriarcal – só que, como acontece em muitos destes activismos, a principal vítima é feminina (neste caso, a gramática).
Esta guerrilha contra os plurais, como se vê na frase citada, não só parece fazer muito sentido para quem a trava, como aparenta ser o mais importante que se pode fazer pelos direitos das mulheres e das minorias. Dizer “boa tarde a todos” a uma sala cheia de seres humanos talvez traga hoje em dia mais problemas do que despedir trabalhadoras por estarem grávidas.
(Ai, esperem, na linguagem inclusiva devo considerar que pode haver pessoas com útero que engravidem e que não se identificam com o sexo feminino. A solução da linguagem inclusiva é usar “e” em vez de “o” ou “a”. Portanto, deveria escrever “trabalhadores por estarem grávides”. Mau, mas trabalhadores não é o masculino genérico que se deve evitar? Pessoas com emprego, pronto.)
Em nome da inclusão linguística, aceitemos que não é de bom tom despedir pessoas do seu emprego quando estejam em situação de gravidez. Mas se tiver de ser, para bem da empresa e da economia, que se mandem embora pessoas doentes ou grávidas (atenção, tal como na expressão “todas as pessoas”, “grávidas” refere-se a pessoas, por isso acho que posso escrever no feminino), que se paguem menores salários a quem tiver um F no passaporte, mas, por todos os santinhos, todas as santinhas e todes os santinhes, evite-se dizer “todos os trabalhadores”.
Advogo que a linguagem inclusiva devia incluir “minha amora” como feminino de “meu amor” e “seu besto” como masculino de “sua besta”. Para terminar, e já em total sintonia com a colunista Carmo Afonso, considero que nomes de mulher terminados em O são uma ofensa inaceitável do patriarcado à condição inclusiva das mulheres. Até isso é um carma.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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