Há histórias que por vezes não entendo. Histórias que têm protagonistas que tento entender. E muitas vezes não consigo. Não sei de onde surgiu a ideia das tantas escolhas estapafúrdias. De tanta necessidade de afirmação nesse constante processo da visibilidade. Se calhar tem a ver com a máxima “quem não aparece esquece”. Curiosamente muitos deles aparecem onde tantas vezes não deveriam estar, obrigando-nos a fazer escolhas.
Mesmo assim, continua a ser interessante fazer escolhas. E escolhemos historietas e atores esquisitos. E fazemo-lo na perspetiva, quase sempre, do politicamente correto, integrados que estamos no tal dito sistema, embora possamos dizer que não o conhecemos na totalidade e, do que conhecemos não o aceitamos, assumindo assim contestação imediata, passando uma imagem de supremacia intelectual onde se mistura algum conhecimento e, quer se queira quer não, todos acabamos por precisar dele, pois não conseguimos ficar alheados das luzes da ribalta ou do espetáculo mediático que nem o Covid consegue atrapalhar.
E lá vamos dizendo que nunca lemos a “Maria”, nunca vimos o “Big Brother”, nunca escutamos pimbalhada, não conhecemos os seus intérpretes, passando assim um atestado à nossa integridade intelectual, de mulheres e homens do sistema, nesse processo de cinismo e hipocrisia que cheira a falso, apresenta laivos de autêntico snobismo e, incrédulos, perguntamos: De quem é a culpa?
Não podendo deixar de lado a ecuménica ação de bater no peito, identificamos, de imediato, múltiplos culpados, a começar desde logo pelos cães do sistema e por quem não quis ou não soube transmitir confiança, dando um murro na mesa, alterando tudo aquilo que está mal e que bem conseguimos identificar. Admiram-se depois que apareçam alguns lobos com pele de cordeiro dizendo coisas que todos sabemos, mas que eles, mulheres e homens do sistema, se recusaram e recusam dizer, demonstrando assim uma falta de coragem para o modificarem.
E esses novos cães nascem, crescem, reproduzem-se por esse mundo fora, num processo contagioso, ganham terreno, pretendendo ser os salvadores de tantas pátrias ameaçadas, a que o cantinho não escapa e onde o escarro que a democracia criou já chegou.
Curioso é tentar perceber que a política é um processo de vasos comunicantes onde a máxima continua a ser “o que parece é”, para se entender de seguida que a matemática é indiscutivelmente uma ciência exata e há que tê-la necessariamente em conta quando se contam os votos.
O próximo ato eleitoral é a eleição para a Presidência da República. A direita tem dois candidatos e a esquerda pelo menos três. Se tivermos em conta o deplorável espetáculo, encenado e protagonizado por Marcelo e Costa na Autoeuropa, percebemos qual o sinal que ali foi deixado, embora se entenda que o atual habitante do palácio “pink” condiciona permanentemente a separação de poderes, numa visível apropriação de todos os valores republicanos chegando mesmo a ser o animador mediático de todos os telejornais. Haja Deus…
A geringonça está desfeita. Olhando para a esquerda portuguesa, que mandou, e bem, o governito de Passos às urtigas, agora de forma perfeitamente desastrada, estúpida e precipitada permite dar a mão àquele que marcelinizou o regime e dá enorme fôlego ao candidato do escarro democrático, entregando-lhe de mão beijada um provável segundo lugar. Há coisas e situações na política portuguesa que realmente não entendo. Histórias e historietas de falsos protagonismos, que por mais voltas que dê ao miolo, não percebo.
Brecht dizia «todas as coisas no mundo são ridículas». Depois de tanto ver, ouvir, ler e analisar, o comentário final vai para o primeiro-ministro que trocou o rosa choque pelo vermelho-púrpura, cidadão António Costa. Acrescentaria ao pensamento de Brecht a existência de atitudes bem ridículas numa mistura incrível entre política e futebol, levando-nos a pensar que após a apresentação da socialista Ana Gomes, como candidata a PR e, tendo em conta o contencioso que mantém com Luís Filipe Vieira, Costa, resolve aparecer ou, se me permitem e em último caso: haverá razões que a razão desconhece.