Em 2000 nasceu O INTERIOR. Nestes 22 anos, o mundo mudou muito. À época, já se falava do fim do papel. Os livros e os jornais, tal como os conhecíamos, estavam condenados a desaparecer num futuro próximo, avisavam os gurus. A bem dizer, ainda não desapareceram, mas a tendência para o seu desaparecimento, essa, não desapareceu. O smartphone – o iPhone foi apresentado ao mundo em 2007 – e as redes sociais vieram acelerar um processo que já estava em curso. A explosão das redes sociais acontece a partir de 2009 graças precisamente à massificação dos smartphones. Passámos a andar com a internet nos bolsos, como anunciou Steve Jobs. Hoje, cerca de metade dos norte-americanos vê as notícias numa única plataforma da internet: o Facebook. Estes números variam de país para país. Porém, a tendência é clara.
Os media demoraram a adaptar-se e ainda estão à procura de um modelo adequado para este admirável mundo novo. Convém não esquecer que os media são um negócio. Têm custos, por vezes, elevados e, por consequência, não sobrevivem sem receitas. Dito de outro modo, precisam de audiências e publicidade. As receitas, os lucros, sempre foram a forma mais eficaz de garantir a independência e a autonomia dos media em relação aos grandes poderes.
Após a crise financeira de 2008, os media, já muito enfraquecidos, afundaram-se ainda mais. Em situações de crise, as empresas, como é compreensível, começam por cortar nos custos com a comunicação, e os gastos em publicidade são logo uma das primeiras vítimas.
Os media locais foram os que mais sofreram com todas estas revoluções e crises. Milhares de jornais, rádios e televisões locais por esse mundo fora desapareceram. O cemitério de media locais não para de crescer. É de uma calamidade que estamos a falar. Quando os repórteres locais desaparecem, as notícias tornam-se abstratas. Desaparecem as notícias que dizem respeito à vida concreta das pessoas. Mais do que um relato sobre o que é familiar aos cidadãos, as notícias tornam-se uma espécie de entretenimento.
Este assunto é muito sério. Não se conhece nenhuma democracia liberal sem uma comunicação social forte. As duas coisas são indissociáveis. A ideia do famoso quarto poder surgiu em Inglaterra no século XVIII, um poder independente que devia vigiar os outros três poderes – executivo, legislativo e judicial. A palavra-chave aqui é independente.
Os jornalistas são verdadeiros heróis nestes tempos difíceis. O INTERIOR tem-se conseguido adaptar e sobreviver, muito graças ao engenho, à visão, ao trabalho incansável do Luís Baptista-Martins e dos seus colaboradores. Brindo a eles. Brindo à democracia e à liberdade.
* Professor do Instituto Politécnico da Guarda e membro do Conselho Editorial de O INTERIOR