Fábio

Escrito por Diogo Cabrita

“Mães de agressores e vítimas deviam consolar-se, mas também essa não é a cultura vigente. Morreram todos naquela noite.”

Uma morte estúpida acontece à porta de uma discoteca. O Fábio é um menino para mim. O Fábio escolheu ser polícia apesar dos discursos desagradáveis que hoje prosperam contra a autoridade. Corajoso o Fábio, em profissão contra a corrente. Segurança e autoridade são coisas que a geringonça não gostava. 26 anos e ele a ser polícia. O Fábio morreu de uns golpes brutos numa noite onde se queria divertir. Os outros são meninos também. Brutos, gente grossa, de uma subcultura de machos alfa. Há disso nos ginásios, nos clubes de criar músculos, mas nem todos são dessa pobreza de saberes. Há os do corpo bonito em mente sã. Fábio identifica-se e tenta resolver o desacato e rapidamente é vítima da brutalidade alfa dos outros. É a cultura que gravita em torno das claques da bola, das seguranças da noite. Fábio tomba inanimado e uma mãe vai perder um filho. Jaz morto o corajoso menino de sua mãe. E os outros? São filhos de outras mães que vão ver como os seus destinos se transformam também. Outros meninos, que agora já não são machos alfa, são rapazes que nunca pensaram matar ninguém, mas agora irão viver nos presídios de Portugal. Numa noite de Lisboa mudam-se destinos. Todos rapazes, homens novos cheios de futuro decepado. Uma distopia mudou a vida de muitos num final de Inverno. Há momentos que realmente constroem dor às toneladas. Mães de agressores e vítimas deviam consolar-se, mas também essa não é a cultura vigente. Morreram todos naquela noite.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

Leave a Reply