Nélson Évora e Pedro Pichardo andam num virote de discussões no Instagram sobre a portugalidade de cada um. Uma coisa é certa: ambos, que vieram de outras terras, deram mais alegrias ao país do que eu, que nasci por cá – o que provavelmente até pode ser entendido precisamente como o contrário de alegria, tanto para o país como para mim.
Sempre me espantei com as pessoas que, saindo das suas terras de origem, escolhiam Portugal para ficar, havendo tanto espaço na Escandinávia, nos Bálticos, nas ilhas do Mediterrâneo (para quem prefere o calor à organização) ou mesmo na Nova Zelândia – que antes de se ir tornando um paraíso socialista, era o melhor país do mundo pelo simples facto de ser o mais distante de Portugal.
Nélson Évora critica o facto de Pedro Pichardo se ter tornado português em 200 e tal dias. Também eu. Acho muito. A lei devia constar apenas de três passos para obtenção de nacionalidade.
Sempre que alguém afirmar que quer passar a ser português deve-se:
Verificar se está a ser coagido, física ou psicologicamente para dizer tal maluquice.
Perguntar, em sequência, “Hã?”, “Quer o quê?”, “Está bom da cabeça?”
Entregar-lhe o passaporte e desejar boa sorte.
Com sorte nossa, um dia, além de campeões de atletismo, pode ser que chegue alguém com vontade e jeito de governar isto com um bocadinho mais de competência. Em quase 900 anos, já se viu que por cá a qualidade para tal tarefa não abunda.
Para além do tema da polémica, é sempre bom ver como pessoas de tantas origens e profissões vão adquirindo proficiência digital e utilizam as famosas redes sociais para aquilo que elas realmente foram criadas: insultar e destilar ódio.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia