Haldane, o experimentador

Escrito por António Costa

“Haldane foi um experimentador resistente que estava disposto a colocar-se em perigo para obter dados para as suas teorias. Numa ocasião realizou uma experiência com níveis elevados de saturação de oxigénio provocando, a si próprio, um ataque.”

John Burdon Sanderson Haldane nasceu em Inglaterra, nos finais do século XIX, no seio de uma família abastada (era filho de Jonh Scott Haldane, um dos melhores fisiólogos britânicos). Teve uma educação de acordo com o seu estatuto, tendo estudado em Eton e Oxford até obter o diploma em Biologia.
Já licenciado, e estimulado por experiências com cobaias, foi influenciado pelas investigações do pai, que tinha estudado o papel do monóxido carbono nas minas de carvão, e começou a interessar-se a sério pela respiração e pelo efeito do dióxido de carbono no sangue. Com as suas experiências conseguiu provocar o aparecimento de ácido hidrocloridríco no sangue de uma cobaia e provou que estas reações seguiam as leis da termodinâmica, algo que teve oportunidade de comprovar mais tarde por meio do cálculo das reações enzimáticas.
Este foi o ponto de partida para mergulhar nos assuntos que ocupariam a sua vida: a genética e a seleção natural. Dedicou a vida à procura da origem da vida no planeta Terra. Em 1923 deu uma palestra em Cambridge prevenindo sobre o esgotamento do carvão para a produção elétrica na Grã-Bretanha e estava então preparado para dar a conhecer a sua hipótese sobre a origem da vida.
Haldane foi um experimentador resistente que estava disposto a colocar-se em perigo para obter dados para as suas teorias. Numa ocasião realizou uma experiência com níveis elevados de saturação de oxigénio provocando, a si próprio, um ataque. Outras vezes usou uma câmara de descompressão nas suas experiências, mas, por ela ser tão utilizada, tanto ele como os seus colaboradores sofreram, entre outros problemas, de perfuração do tímpano.
Perante este problema, Haldane defendeu que o tímpano se curava e, caso continuasse a existir uma perfuração, a única coisa que aconteceria era ficar um pouco surdo, mas o resultado aplicado à ciência foi um marco social.
O seu contributo principal para a conhecimento científico ficou registado numa série de artigos que foram complicados em “A Mathematical Theory and Artificial Selection” (“Uma Teoria Matemática da Seleção Natural e Artificial”) e resumidos em “The Cause of Evolution” (“As Causas da Evolução”), publicado em 1932. Aí, Haldane estudou dois assuntos fundamentais para a matematização da teoria evolutiva: a direção e as taxas de mudança de frequências genéticas, e a interação da seleção natural com a mutação e a migração. Haldane também reconhecia outras causas evolutivas, como o saltacionismo (mudança repentina entre uma geração e a geração seguinte) e a ortogénese (tendência inata para evoluir de um modo linear devido a uma força condutora), independentemente do facto de a seleção natural ter tido o papel principal.
Os trabalhos de Haldane foram um importante contributo para a teoria da síntese moderna que restabeleceu a seleção natural como o principal mecanismo de mudança evolutiva.

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António Costa

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