Habituem-se

“A coberto da maioria vemos como o poder, nacional ou local, despreza a oposição, o contraditório, os jornais ou a liberdade de expressão”

1. O ano ainda não acabou mas já podemos fazer um balanço, um olhar sobre o que foi 2022.
Um ano para esquecer. Ou um ano que não podemos esquecer.
Um ano de crise, de recessão, do regresso da inflação e da guerra – um ano de incerteza!
Um ano em que António Costa conquistou a maioria absoluta, que lhe permite governar sem sobressaltos ou cultura democrática – de que a entrevista à “Visão” foi elucidativa e deixou antever o mal que faz o poder absoluto e a falta de respeito democrático. A coberto da maioria vemos como o poder, nacional ou local, despreza a oposição, o contraditório, os jornais ou a liberdade de expressão – o “habituem-se” de António Costa é um grito arrogante de jactância para todos os que o criticam ou simplesmente discordam dele. Depois da enorme vitória do PS sobre um Rui Rio inapto e sobre os parceiros da “geringonça”, o PS de António Costa não tinha necessidade de enxovalhar os adversários, e menos ainda de alegar que os adversários “guincham”.
Em 2022 voltámos a ter o flagelo dos incêndios, com a Serra da Estrela a ser fustigada pela destruição ambiental e os bombeiros, uma vez mais, descoordenados e incapazes de promoverem um combate eficiente e rápido. Como em 2017, o interior do país voltou a arder sem resistência, sem capacidade de travar a força e velocidade das labaredas. O Governo reage como pode, e com mais rapidez que o habitual anunciou um pacote de medidas para minimizar os prejuízos, mas a Serra da Estrela e a região precisam de muito mais.
Num país que perdeu mais de dois por cento da população nos últimos dez anos, e a Beira Interior mais de 10 por cento, em 2022 confirmou-se que somos menos, mais velhos e incapazes de promover medidas de combate ao despovoamento e de apoio à natalidade – e um país velho e sem crianças é um país moribundo e sem futuro.
E 2022 foi também o ano em que, uma vez mais, nos perguntamos para que servem serviços tão inoperantes como o IPMA ou a proteção civil que andam sempre a apregoar avisos de calamidade, mas quando a tragédia bate à porta estão sempre distraídos ou são completamente incapazes de prever o que seja. Foi assim em Lisboa e em tantos outros locais, perante o mau tempo dos últimos dias, falharam absolutamente em avisar as populações para os dilúvios que se iam abater sobre elas. Como comentou Miguel Sousa Tavares, parece que foi uma «tempestade perfeita» e imprevisível. Tal como em 2017, nos fogos de Pedrógão, onde morreram 66 pessoas, e todos os responsáveis foram absolvidos porque a culpa era do sistema e de ninguém em particular. Em 2022 foi, pois, um ano igual aos outros… em que a responsabilidade morre sempre solteira…
2. Na antiguidade, o Natal era comemorado em diferentes datas. Por não se saber com exatidão o dia do nascimento de Cristo, porque cada cultura, cada sociedade, tinha o seu dia de celebração do nascimento “do Salvador”. Só no século IV foi definida e tornada quase universal a data oficial das celebrações pelos cristãos (os ortodoxos continuam a fazê-lo 12 dias depois; os ucranianos vão celebrar o Natal dia 25, pela primeira vez, como contestação ao poder russo da Igreja Ortodoxa).
Entre nós, o Natal é o dia da família, da amizade, da paz e solidariedade. É o dia do Menino Jesus, das prendas no sapatinho, do bacalhau com couves, do polvo, do cabrito, das filhoses e do “madeiro”. É o dia dos excessos, das “luzinhas” e do presépio. É o dia da alegria, do amor e da partilha. É o dia que todos esperamos o resto do ano. É o nosso e o vosso dia. Votos de um Feliz Natal!

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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