Grito contra as portagens

“13 anos de luta dos que sempre acreditaram que fazia sentido contestar o pagamento de portagens nas autoestradas do interior, e que agora devem ser elogiados pela tenacidade e defesa destes territórios”

A 31 de agosto de 2011 fui recebido em audição na Assembleia da República onde, enquanto cidadão e numa atitude de manifesta intervenção cívica, contestei a introdução de portagens nas autoestradas sem custos para o utilizador – as SCUT, nomeadamente a A23 e A25 (https://ointerior.pt/arquivo/contra-as-portagens/).
No seguimento de Petição Pública subscrita por mais de quatro mil cidadãos, de que fui autor e promotor, estive na Assembleia da República, onde apresentei rogação com descrição, enquadramento, factos e argumentos contra a cobrança de portagens nas autoestradas da região https://ointerior.pt/arquivo/uma-janela-de-esperanca-para-o-interior/. Infelizmente, e apesar da contestação e luta de muitos, as portagens foram introduzidas em dezembro de 2011 impondo mais custos de contexto e maiores assimetrias para as pessoas e empresas do interior – https://ointerior.pt/arquivo/peticoes-nao-evitam-portagens-na-a25-e-a23/. E foi isso que sempre escrevi e comentei – https://ointerior.pt/arquivo/contra-as-portagens-ii/.
As SCUT foram construídas com financiamento europeu e pretendiam precisamente contribuir para corrigir disparidades e desencravar o interior, além da mobilidade nacional e internacional. E dei sempre voz e admirei aqueles que não pararam esta luta, em especial a comissão de utentes – a Plataforma P’la Reposição das antigas SCUT que buzinaram e protestaram ao longo de 13 anos. Uma dúzia de anos de luta que confirmam que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Foram 13 anos de luta dos que sempre acreditaram que fazia sentido contestar o pagamento de portagens nas autoestradas do interior, e que agora devem ser elogiados pela tenacidade e defesa destes territórios – porque se a decisão foi política, e podemos fazer todos os comentários e interpretações sobre promessas ou interesses partidários na contenda, mas a abolição das portagens só se manteve na agenda política e mediática porque houve pessoas que não desistiram na defesa da sua eliminação.
Contra a vontade do atual Governo, num quadro financeiro favorável para o país, numa medida justa que pode não desencravar o interior, mas vai contribuir para a supressão de assimetrias. E à valorização e desenvolvimento socioeconómico de um território sustentável ainda que estigmatizado. Pode ser vista como uma maioria negativa, mas é uma maioria em defesa do interior, dos cidadãos que ao longo de quase 13 anos têm pago portagens que nunca deviam ter sido implementadas – curiosamente, para a história, ficará que foi um governo do PSD que implementou o pagamento de portagens nas SCUT e que será um governo do PSD a aboli-las… Num país a várias velocidades, a abolição do portajamento nas autoestradas do interior ou onde não há vias alternativas com qualidade e segurança também é uma forma de liberdade, de coesão territorial e, essencialmente, uma oportunidade de combate à desertificação, ao despovoamento e à pobreza a que os territórios de baixa densidade foram condenados.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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