Se a Revolução do Proletariado não chegar entretanto, começa amanhã, na margem sul do Tejo, a Festa do Avante! Se a Revolução do Proletariado se tiver dado entre a hora a que escrevo e a hora a que isto é lido, haverá Festa do Avante! em todo o lado, nas duas margens do Tejo e na margem sul do Douro. Se a Festa do Avante! ficar circunscrita à Atalaia, significa que a vanguarda ainda não assumiu o poder, e que para a próxima semana ainda haverá Observatório de Ornitorrincos. Ninguém disse que a democracia liberal era perfeita.
Há razões claras para o PCP fazer finca-pé na realização do certame e para sermos tolerantes com a sua concretização.
Em primeiro lugar, é ridículo dizer que os comunistas não conseguem controlar uma multidão. Quem diz isto é gente que não conhece ou não se lembra das siglas URSS ou RDA.
Em segundo lugar, haver um local gerido por comunistas onde nunca falta comida é tão raro, que não se deve desperdiçar a oportunidade. Disso não se lembrou nem o Estaline, de organizar Festas do “Pravda” na Ucrânia na década de 1930.
Em terceiro lugar, há uma dimensão nostálgica no evento. As longas filas para entrar no recinto trarão à memória dos mais saudosistas as igualmente longas filas para comprar pão na antiga Checoslováquia, na Polónia, ou na Hungria.
Em quarto lugar, o PCP não está preocupado com a saúde dos seus militantes, porque sabe que ao mínimo sinal de doença, os comunistas vão tratar-se a Cuba, que tem uma medicina revolucionária.
Em quinto lugar, este ano, a Festa serve de teste. Os camaradas de partido que se assustem com um vírus qualquer, ainda para mais vindo da terra de Mao, não estão preparados para atacar a burguesia e fazer a Revolução. Se os Bolcheviques tivessem medo da gripe, nunca teriam assaltado o Palácio de Inverno.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia