Esta viagem no tempo leva-nos a revisitar antigos alunos em Coimbra, nascidos no distrito da Guarda. Já formados, uns regressaram às suas terras, outros espalharam-se pelo país. De alguns ficam apenas estas breves noticias, mas reavivamos a sua memória, como era nosso desejo. O Colégio de S. Fiel antecedeu para muitos jovens da região a ida para a universidade, daí a referência histórica.
Antero Marques
Filho de Artur Marques, nasceu na Vermiosa, Figueira de Castelo Rodrigo, em 1901. Matriculou-se na Faculdade de Medicina. Ao mesmo tempo que se torna dentista afamado a nível nacional, mantém uma intensa atividade na Guarda, tornando-se uma personalidade marcante na sociedade local. Publicista profícuo, escrevia em vários jornais e revistas. Desses registos deixou uma coletânea de ensaios de índole bairrista e nacionalista, como o próprio afirmava, intitulada “De Tudo Um Pouco”.
António Meliço Silvestre
Filho de Abel Meliço Silvestre e de Carolina Augusta, nasceu a 30.01.1900, em Freixedas (Pinhel). Matriculou-se nas Faculdades de Ciências, e de Matemática e Medicina, nas quais se veio a formar. Foi um distinto professor catedrático. Seu filho, António Abel, veio a ser lente da Faculdade de Medicina. Faleceu em 1973.
António Melo de Sena Mota Veiga
Filho de Francisco de Paulo Melo da Mota Veiga e de Petrolina Mota Veiga, nasceu em Seia a 18.09.1896. Frequentou o Colégio de S. Fiel até 1910, altura em que o colégio foi encerrado compulsivamente. Para continuar os estudos foi para a Guarda, sendo “hóspede” do cónego José do Patrocínio Dias, o grande capelão junto dos nossos soldados no decorrer da Primeira Guerra Mundial, e futuro bispo de Beja. Matriculou-se na Faculdade de Ciências (1915) e na Faculdade de Medicina (1922). Regressou a Seia onde exerceu clínica durante toda a sua vida. Politicamente, acabou por aderir ao projeto do Estado Novo. Foi presidente da Câmara Municipal de Seia de 1946 a 1961.
António Paulo Menano
Filho de António da Costa Menano, negociante e proprietário, e de Januária Augusta Paulo, nasceu em Fornos de Algodres a 5.05.1895. Matriculou-se na Faculdade de Medicina. Foi nessa altura que despertou para o fado de Coimbra, do qual virá a ser um dos seus maiores cultores, conhecido em todo o país. Era irmão de Francisco Menano, também ele um virtuoso do fado de Coimbra.
Já formado, passou a exercer clínica na terra natal e posteriormente em Moçambique. Foram marcantes as suas guitarradas na bonita casa dr. Ladislau Patrício, ao cimo da Rua do Encontro. Morreu em Lisboa em 1969.
O Colégio de S. Fiel
O Colégio de S. Fiel foi instalado em Louriçal do Campo, uma freguesia do concelho de Castelo Branco, situada no sopé da Serra da Gardunha.
Em 1850, Frei Agostinho da Anunciação, confessor da Infanta Isabel Maria, filha de D. João VI, decidiu transferir para a sua terra natal, Louriçal do Campo, um pequeno centro de acolhimento de órfãos que anos antes tinha fundado em Lisboa. O albergue, com a designação de Orfanato de Órfãos de S. Fiel, ficou entregue a Frei Agostinho até 1857, data em que passou para as Irmãs da Caridade de S. Vicente de Paulo. Em 1873, dado o ambiente anticlerical foi simulada a venda a três ingleses, que não se identificaram como jesuítas, tendo passado, pouco a pouco, a dedicar-se à educação.
Rapidamente, transformou-se numa das mais prestigiosas instituições de ensino em Portugal, em que a investigação e experimentação eram prática corrente. Por aqui passou Egas Moniz, nosso primeiro Prémio Nobel, e aqui se publicou a famosa revista “Brotéria”. Era nesse contexto de qualidade que as famílias da Guarda enviavam os seus filhos para o colégio. Em 1910, logo após a implantação da República, os bens da Igreja e do colégio são confiscados e deixados ao abandono.
Poucos anos depois foi ali instalado um sanatório militar destinado aos soldados portugueses a lutar em França, e de que foi seu diretor o dr. Ladislau Patrício. Mais tarde passou a Reformatório de S. Fiel e agora é o abandono, agravado por um pavoroso incêndio florestal, que o destruiu completamente em 2017.
Carlos Alberto Marques
Filho de Bernardino Luís Marques, nasceu a 14.11.1896 em Vale de Espinho (Sabugal). Começou por frequentar o seminário, mas não sentindo vocação para o sacerdócio mudou para o liceu da Guarda. Matriculou-se na Faculdade de Letras. Acabado o curso regressou à Guarda, em cujo liceu veio a ser professor entre 1928 e 1959. Escreveu, entre outras obras, “A Serra da Estrela” e “A Bacia Hidrográfica do Côa”. Faleceu na Guarda a 25.05.1965.
Francisco Maria Manso
Filho de José Maria Manso e de Maria José Martins Chorão, nasceu em Aldeia do Bispo (Sabugal), a 28.11.1892. Matriculou-se na Faculdade de Medicina, depois de ter passado pelo exigente Colégio de S. Fiel. Instalou-se no Sabugal, onde veio a casar com Beatriz Augusta Canaveira. Foi médico municipal; médico no Hospital da Misericórdia e delegado de Saúde. Foi também um termalista dedicado, tendo sido diretor clínico das Águas Rádium e das Termas do Cró. Foi presidente da Câmara Municipal do Sabugal, entre 1946/53. Ficaram célebres as caçadas por ele organizadas e que deixou registadas em “Caçadas aos Javalis”. Foi, indiscutivelmente, uma das figuras mais marcantes da sociedade regional. Ele, que cantava «…a mocidade, a destreza, o dinamismo, a valentia!», nunca esqueceu a sua terra natal, e após ter falecido, a 27.11.1982, ali repousa para sempre.
* Investigador da história local e regional