A perceção e a lealdade em política

“Eduardo Cabrita comportava-se como um tiranete.”

1. Cruzei-me algumas vezes com Eduardo Cabrita, ele na sua função de ministro, eu de jornalista. E a sua postura foi sempre grosseira, malcriada, por vezes mal-educada mesmo. Recordo que um dia, em Foz Côa, na abertura de uma feira de vinho, me dirigi a ele para lhe fazer algumas perguntas… Respondeu com soberba que já tinha dito «o que tinha a dizer» durante a sua intervenção! Em outro momento, numa sessão socialista no salão da antiga Junta de Freguesia de S. Miguel, na Guarda, tentei falar com ele sobre um assunto polémico de então… E, de novo, afastou-me com um braço de forma rude enquanto me dizia que «não estava ali» para falar comigo.

Esta postura tosca repetiu-se outras vezes. Na verdade, Eduardo Cabrita comportava-se como um tiranete. Socialista dos quatro costados, mas “à maneira dele”, odeia jornalistas e vocifera contra todos os que não pensam como ele. Detesta a liberdade de imprensa e gosta de achincalhar quem o interroga ou contraria. Um democrata de trazer por casa, uma figura grotesca, que sai de cena em nome dos superiores interesses do partido e da amizade por António Costa.

Mas tudo isto fez dele um mau ministro? Não necessariamente. Não duvido da sua competência e lealdade ao primeiro-ministro – qualidades essenciais para a função (pelo menos na opinião de… Rui Rio). Assumiu a pasta da Administração Interna depois do terror dos incêndios, e terá sido sobre a sua jurisdição, por coincidência ou mérito, que houve menos fogos e menos área ardida em Portugal. Mas também foram muitas as polémicas que lhe bateram à porta – as mais notórias, e onde ele exibiu toda a sua soberba, foram a morte de um cidadão ucraniano “às mãos do SEF” ou o acidente na autoestrada onde Cabrita era «apenas um passageiro». Honestamente, e contrariando a opinião pública e publicada, mesmo considerando o ex-ministro um ditador em potência, concordo com o meu amigo António Ferreira: «A responsabilidade do proprietário da viatura, assente na relação comitente-comissário é meramente civil (não criminal) e não prejudica o direito de regresso (do proprietário) sobre quem tem realmente o controlo da situação: o tipo que vai ao volante, o motorista. Outra coisa: se o carro batesse na vítima a 120 km/hora não o matava? Outra ainda, é normal aparecer um peão numa faixa de rodagem da autoestrada?», e se a sinalética de obras está do lado direito, na berma, é aceitável que um trabalhador atravesse as duas vias (abertas ao trânsito) de uma autoestrada e seja “apanhado” do lado esquerdo, na via, próximo do separador central? Não sei o que responder… E não duvido que o cidadão Eduardo Cabrita foi bronco, onde devia ter sido solidário e humanista. E não, ele não era apenas um passageiro, era um ministro que devia fazer cumprir a lei do Estado de que é governante, dentro do carro, impondo uma velocidade mais reduzida, e solidarizando-se com a vítima ou com a sua família. Depois se apurariam as responsabilidades criminais. E foi essa arrogância inumana que levou à demissão de Eduardo Cabrita – porque António Costa teve a clara perceção, a dois meses das eleições, que o saco-de-boxe do governo se iria transformar na ponte 25 de abril de Cavaco Silva, ou seja, que o passageiro Cabrita seria um desastre eleitoral para o PS.

2. Carlos Peixoto foi nos últimos anos, com diferença, o melhor deputado do distrito da Guarda na Assembleia da República. Destacou-se em diferentes momentos, ainda que só na defesa da descida do custo das portagens essa visibilidade e defesa da região tenha sido percetível. Foi excluído das listas do PSD por não ter apoiado Rui Rio. Compreende-se (???!). A lealdade partidária acima do interesse dos eleitores! Vai continuar a ser colunista, mensalmente, no Jornal O INTERIOR, porque não podemos permitir-nos a excluir os melhores.

3. O PS na Beira Interior tem a sorte extraordinária de ter Ana Mendes Godinho e Ana Abrunhosa como cabeças-de-lista nos distritos da Guarda e Castelo Branco. Duas grandes personalidades, os melhores ministros deste governo e dos poucos portugueses que têm uma visão para o país. E capacidade para implementar essa visão.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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