O número de estudantes nascidos no concelho da Guarda continua a ser pequeno. Todos eles estão ligados a famílias abastadas ou já de alguma projeção cultural. É significativa a presença de estudantes filhos de militares, nomeadamente do RI 12 (Regimento de Infantaria nº12), aquartelado na cidade.
João Carlos Freire Cortez Madeira
Filho de António Freire Cortez Metello e de Maria da Conceição Madeira de Abreu, nasceu na Guarda a 30 de abril de 1886. Neto de Francisco Cabral Metello Pacheco e de Maria Amália Freire Cortez de Albuquerque (administradores dos vínculos da Guarda, Freineda e Abrantes) e de João Lopo de Abreu e de Ana Sancha Madeira. Pertencia a uma família afidalgada e muito abastada. Matriculou-se na Faculdade de Direito. Casou com Maria Cesaltina Planas Dória. Faleceu em Coimbra a 11 de julho de 1919.
Joaquim Diniz da Fonseca
Filho de António Dinis da Fonseca e Maria Rita, nasceu no Rochoso a 3 de novembro de 1884.
Foi deputado à Assembleia Nacional entre 1922 e 1926. Subsecretário de Estado da Assistência Social (de 28 de agosto de 1940 a 6 de setembro de 1944) e das Finanças (de 1944 a 2 de agosto de 1950). Foi administrador da Companhia de Diamantes de Angola e membro da Junta Consultiva da União Nacional, de 1945 e 1957.
Intelectual católico, era politicamente um homem de relevo no regime e tido por confidente de Salazar e Cerejeira. Muito ligado ao Venerável Servo de Deus, D. João de Oliveira Matos, sobretudo através da Liga dos Servos de Deus, por ele fundada. Tendo muito poder, morreu pobre. Por isso, pelo muito que fez em prol dos desfavorecidos, foi muito sentida a sua morte, ocorrida em Lisboa, em 1958.
José da Silva Tavares da Rocha e Gouveia
Filho de Pedro da Silva Tavares Gouveia e Maria Gouveia da Rocha Fragoso, nasceu em Gonçalo a 23 de outubro de 1890. Matriculou-se na Faculdade de Matemática. Foi professor da Faculdade de Ciências de Coimbra, da qual pediu exoneração para ser nomeado professor efetivo do Liceu Nacional da Guarda. Foi reitor do Liceu Central de Gil Vicente, em Lisboa.
Simeão Nunes Victoria S. Vicente
Filho de Augusto Nunes Victoria (Maçainhas) e de Maria Augusta Ferreira (Celorico da Beira), nasceu na Guarda a 15 de agosto de 1892. Pertencia a uma família de artistas da cidade, tendo dourado e restaurado vários altares e igrejas da região. Em termos militares sobressaiu o capitão Arnaldo Nunes Vitória, comandante da 4ª companhia do batalhão nº5, da Guarda Nacional Republicana, da Guarda. Matriculou-se na Faculdade de Filosofia. Casou com Lúcia da Gama Lobo, de Ermesinde. Destacou-se enquanto diretor dos Serviços de Instrução de Angola. Faleceu na Lapa, Lisboa, a 22 de maio de 1981.
Francisco da Conceição Dias
Filho de André Dias e de Maria Palmira Dias, nasceu na Guarda.
O pai, originário de Lamego, era capitão do RI 12 (Regimento de Infantaria nº12), aquartelado na Guarda. Matriculou-se na Faculdade de Matemática.
Jayme Thomé
Filho de Manuel Thomé e de Maria Vasca, nasceu a 30 de abril de 1887 em Carpinteiro, freguesia de Casal de Cinza. Matriculou-se na Faculdade de Direito em 1909/1910. Casou com Maria do Céu Figueiredo Rodrigues. Foi colocado em Ibo (Moçambique), ainda no decorrer do processo judicial de que foi alvo, como veremos. Mais tarde veio a ser juiz do Supremo Tribunal de Justiça. Faleceu a 14 de outubro de 1965 em Sepins (Cantanhede), terra da naturalidade da esposa.
O caso do padre Môro
Os factos ocorridos em Casal de Cinza, e de que vamos dar conta, têm que ser entendidos e enquadrados no contexto político, social e religioso da época: a República dava os primeiros passos e precisava de se afirmar; o anticlericalismo era grande; e um jovem acabado de se formar, mas que já era tratado por “ilustríssimo senhor doutor”, precisava de o justificar. Só assim se compreende o alcance e tão grande repercussão que os factos tiveram.
Casal de Cinza, onde, segundo o prof. Carvalho Rodrigues, passa o eixo da terra, é uma freguesia do concelho da Guarda que tem a particularidade de ser formada por numerosas aldeias dispersas, aglutinadas em redor da sua igreja matriz, que une e dá entidade aos seus habitantes. Durante décadas, o padre Francisco António Lourenço paroquiou Casal de Cinza (já tinha sido ele a batizar Jaime Tomé), mas em finais de 1906, velho e doente, deixou de poder desempenhar o seu múnus e teve que ser substituído.
Foram vários os padres que passaram pela paróquia no curto período de dois anos que se seguiu (José da Silva Elvas, José Augusto Frade, Luís Alves de Campos), até que, em dezembro de 1908, já com caracter definitivo, o bispo da Guarda, D. Manuel Vieira de Matos, colocou à sua frente o padre Manuel Joaquim Môro. Mais novo, com outras ideias, e outra forma de relacionamento, acabou por despertar algumas incompreensões e invejas. Na freguesia já havia algum falatório sobre a sua personalidade, alimentado, segundo parece, pelo Jaime Tomé e pessoas das suas relações, mas nada de especial.
Em 1915 o caso tomou outras proporções quando começaram a surgir no jornal “O Combate” uma série de notícias altamente agressivas para com o padre Môro. Tudo epítetos “abonatórios”: «Explorador, não ter escrúpulos, homem pouco honesto e indigno de se lhe apertar a mão, farsante, hipócrita, falso cristão, cobarde, infame, e de não ser um homem, mas um monstro». Afirmava-se no jornal que o padre tinha relações sexuais com mulheres casadas, da prática de estupro, e até envolvia uma jovem inocente, e que havia provas disso. Aparece um bilhete (a tal prova), que a ser verdade o que ali constava, era arrasador e altamente atentatório da sua dignidade. O caso atingia proporções enormes, o falatório era geral e os paroquianos, sem saber de razões, dividiam-se. O padre Môro, indignado, processa Jaime Tomé, por ser o autor dos artigos, e Felizardo António Saraiva (Coriscada, Mêda, 30.6.1889 – Guarda, 8.9.1966), pertencente a uma das principais famílias da cidade e região, e ao tempo um dos responsáveis de “O Combate”, por conivência, dando entrada no tribunal da Guarda com um processo por abuso de liberdade de imprensa, que muito dará que falar, quer pelo tema, quer pela qualidade dos acusados e dos advogados.
Em tribunal, o padre Môro justificou o papel por ele escrito dizendo que quando se dirigia à igreja matriz encontrou colado no cruzeiro que lhe fica em frente um bilhete, tipo edital, que lhe chamou a atenção, e que copiou para averiguar o que se passava e impedir a sua leitura. Mas, desapareceu-lhe. Foi encontrado por Antónia Vicência, de Carpinteiro, e entregue a Jaime Tomé. Afinal, afirmava o padre Môro, todos sabiam das relações amorosas entre os dois, por isso… Em tribunal, Jaime Tomé não explicou quem era a jovem e o dr. Felizardo não disse quem eram as tais mulheres casadas com quem o Padre Môro andava. Ambos foram condenados a prisão, pena no entanto suspensa, e a uma indeminização ao padre Môro. Dela ainda recorreram para a Relação do Porto.
Meu amor! Já há tantos dias sem te ver! Porque não vieste cá no dia de entrudo? Já te tenho muitas saudades! Minha querida! Eu passei o entrudo muito triste por te ver tão mal na terça feira.