Estado de emergência

Escrito por Diogo Cabrita

Giorgio Agamben é um filósofo com formação em Direito que estudou o estado de sítio, o estado de emergência, no contexto de decisões tidas por importantes em períodos de guerra ou de agitação popular. O facto é que a imposição de estados de emergência tem provado ser sobretudo um tempo de violação da liberdade e um modo de construir uma necessidade que utiliza o excesso de poder e a redução de direitos para chegar a um fim. Assim encontramos em Recep Tayyip Erdoğan, na Turquia, um fabricado golpe de Estado que levou a medidas de alteração constitucional incrementando a doença narcísica de mais um ditador. Assistimos ao mesmo na Bielorrússia com a saída do exército para conter as populações indignadas com a fraude e a política corrupta e nepotista de Aleksandr Grigorievitch Lukashenko.

Esta questão do Estado que impõe restrições aos direitos é o tema maior dos últimos escritos de Agamben e de Slavoj Žižek. Mas o surpreendente foi verificar como outros pensadores contemporâneos submergidos na fantasmagórica lide do vírus, usando a pantomima das máscaras e dos capotes, ousaram contradizer o pensamento reinante. Deles, aqueles que a história fixará, sobram textos duros e contundentes sobre o estado de emergência que submergiu o mundo para conter o vírus. Interessante foi perceber como alguns comentadores portugueses ilustres se mantêm fechados no circuito da ideologia e resolvem manter o discurso covid com perfídia.

Li na Revista E do “Expresso” um brilhante texto de Francisco Louçã sobre os bobos que foram eleitos nos últimos tempos pelo mundo, mas nele esquecia-se, com propósito de zurzir dois em especial, todos os outros facínoras do momento. É que eles estão na Bielorrússia, na Turquia, na Hungria, na Venezuela, nas Filipinas, na Índia e tendem a aumentar. Os pantomineiros, os bufos, são uma espécie que nasce da ignorância narcísica para que empurram os jovens na escola tolerante, no ensino com fins estatísticos. Uma escola sem exigência é uma fábrica de ignorantes que se bajulam nas redes sociais. Claro que para os bufos, os bobos, é melhor açoitar as audiências que pateiam, expulsar da sala os que não gostam do espetáculo. Por tudo isto o estado de sítio declarado para o covid ou qualquer outra razão é sempre uma violação da liberdade e uma redução dos direitos de cidadania.

Os ignorantes que discutem a pena de morte ou a prisão perpétua não leram nada sobre o que se escreveu e estudou em Direito Penal. É esta infâmia que nasce da escola que estamos a construir, onde a verdadeira iliteracia se doutora, onde gente com nenhuma leitura chega a doutor. Este estatuto de bom aluno de escola medíocre é o exemplo do André Ventura. Maduro, Trump, Bolsonaro, Putin, são uma consequência do caminho, não são a causa do estado de loucura. Quem fez esta escola pública sem exigência foi uma esquerda radical e obsessiva que exige disciplinas vácuas em vez de Matemática, Português, Geografia, História. O erro de Agamben é perceber em 2003 o que se está a passar em 2020 e não conseguir fazer-se ouvir pelas elites. A incultura aproxima o sapiens do macaco, e a eleição dos bobos conduz a humanidade para uma tragédia. Claro que a morte de biliões pode ser uma necessidade de equilíbrio do planeta e, desse modo, a vida pode estar a fazer o seu percurso de contenção utilizando as características vaidosas, preguiçosas, gananciosas, até batermos com o peito contra uma tragédia bíblica.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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