O Brasil elegeu um novo presidente. Finalmente, acabaram os motivos para haver manifestações, insultos públicos e outras gritarias, uma vez que esses são direitos exclusivos de apoiantes de Lula quando o presidente não é do PT. Também deixou de haver razões para se ficar enxofrado quando um candidato acabado de eleger começa o discurso com agradecimentos a Deus – já se sabe que tal atitude só é ofensiva quando o vencedor não é o candidato da esquerda. Um dos principais motivos de alegria, repetido exaustivamente pelos apoiantes de Lula na noite eleitoral, é a possibilidade de uma nova política para a Amazónia. Como agradecimento por tanta preocupação, o povo do Amazonas reelegeu um governador de direita, apoiante de Bolsonaro.
Numa observação de política comparada, pode-se observar que o antigo e futuro presidente do Brasil é apenas mais um numa linha de governantes da família dos cefalópodes e outros moluscos. Se o Brasil vai ser governado por Lula em versão marinada, o poder em Portugal está entregue a um polvo, com muitos tentáculos e ventosas que se agarram a tudo o que é tacho, e que nos é servido ao mesmo tempo que nos vão dando o arroz. Na Alemanha, a lesma do chanceler, debaixo da sua casca rija e teimosa, demora horrores a responder aos pedidos de auxílio militar vindos da Ucrânia. No Reino Unido, o governo foi tomado por um bando de mexilhões, que não conseguem estar quietos no lugar. Em França, a presidência assemelha-se a umas delícias do mar, que fingem ser marisco, mas são apenas um preparado artificial. Podem ter bom aspecto, mas quando se aproximam do lume desfazem-se todas, e no fim de contas não têm sabor quase nenhum. Quanto à nova amêijoa que chegou ao governo italiano, só quando abrir é que se vai perceber bem se está em condições ou se é apenas casca sem nada lá dentro.
No resto do mundo, o actual presidente dos EUA é um bocado choco, mas ainda assim melhor que o camarão de águas profundas que o antecedeu. O presidente russo, o famoso filho da Putina, que tem vida longa e é extremamente territorial, é com toda a certeza um bom exemplo de uma lapa.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia