No mundo da física não é um capricho que as quantidades conservadas como a energia sejam objeto de devoção. De facto, há razões essenciais no nosso entendimento do mundo que determinam a existência de quantidades que se conservam nos processos físicos.
Quando se realiza uma experiência de qualquer tipo em física obtém-se um resultado. Quando se repete a experiência nas mesmas condições espera-se obter o mesmo resultado. De facto, é indiferente se a experiência se realiza às três horas da madrugada ou às cinco da tarde. É indiferente se a realizamos hoje, amanhã ou dentro de um ano, uma vez que as leis da física não dependem da hora ou dia em que as submetemos ao escrutínio. Com efeito, a matemática alemã Emmy Noether foi a primeira cientista a expor estas ideias em termos formais, ao descobrir que este tipo de propriedades das leis físicas se traduz na existência de quantidades que se conservam nos processos físicos. Para o caso descrito anteriormente a quantidade física é a energia.
Os resultados de Noether estão no próprio âmago da forma como se concebe a física hoje em dia. É justo reconhecer o trabalho desta mulher que mudou para sempre a forma de entender a física, apesar de todas as dificuldades que encontrou pelo caminho.
Emmy Noether nasceu em Erlangen (Alemanha) a 23 de março de 1882, no seio de uma família judaica com muitos dos seus membros dedicados à matemática. O próprio pai de Emmy foi professor desta disciplina na Universidade de Erlangen. Em 1900, numa época em que não era permitido às mulheres matricularem-se nas universidades alemãs, foi dada a Emmy a oportunidade de assistir, como ouvinte, a certas aulas de matemática. Dois anos depois mudou-se para Gottingen, onde recebeu lições de grandes matemáticos como David Hilbert, Felix Klein ou Hermann Minkowski.
Os seus magníficos trabalhos em matemática deram muitas vezes origem a novos campos de estudos no âmbito da álgebra ou da geometria. Entre 1908 e 1915 defendeu a sua tese de doutoramento em Erlangen e obteve o respetivo grau académico em matemática, embora já mais tenha recebido qualquer retribuição pelo trabalho que realizou na universidade. Após o seu doutoramento, viajou de novo para Gottingen, onde voltou a encontrar-se com David Hilbert e Albert Einstein, que estavam envolvidos na discussão sobre a forma das equações da relatividade geral. Foi neste contexto que formulou os teoremas que hoje se apresentam como fundamentais na física. Justifica-se um lamento por não ter conseguido ser reconhecida como investigadora de pleno direito na Universidade de Gottingen até Hilbert e Einstein intercederem por ela.
A vida nunca foi fácil para Emmy, que mais tarde viu a sua carreira ser cerceada pelas leis raciais nazis. Em 1933, após a nomeação de Hitler para chanceler da Alemanha, viu-se obrigada a procurar exílio nos Estados Unidos, vindo a lecionar na academia feminina Bryn Mawr College. Lamentavelmente, uma complicação após uma intervenção cirúrgica poria fim à sua vida em 1935. Sem receio de exagerar, referira-se que Emmy Noether foi uma das figuras mais importantes da matemática e da física do século XX.