Por estes dias, na “zona histórica” da Guarda, demos com os caixotes do lixo aí existentes revestidos por vime. Adepta de materiais mais nobres, preferia vê-los velados por camurça ou couro, mas gostos não costumam ser para discutir e o concelho será até mais profícuo na cestaria do que na marroquinaria. Por isso, esquecendo a estética e o facto de estas ideias só costumarem ocorrer a quem não sabe o que fazer ao dinheiro, a seleção dos materiais de revestimento dos belos dos caixotes do lixo nem seria completamente estapafúrdia. O problema é que depois de acompanhar as queixas do nosso presidente da Câmara quanto à escassez de recursos para a reconstrução das infraestruturas danificadas pelos incêndios, depois de constatar o estado geral de degradação, por falta de manutenção e substituição, dos equipamentos infantis dos nossos parques e jardins, depois de observar a impossibilidade evidenciada na gestão da mobilidade urbana e outras que tais, excesso de recursos financeiros nem será, de todo, o caso. Como sempre, recursos são coisa que por aqui não abunda e, pelo caminho que na última década a coisa tem levado, não se vislumbra qualquer oportunidade de a breve trecho chegar, ao menos, para o que realmente faz falta.
Retornando às cestas no lixo, não sendo pele de animal, também não eram vulgares de todo ou, sequer, feias de todo. Está bem que na Rua do Comércio as cestas destoavam um bocadinho daquela iluminação “vanguardista”, mas como a dita também já destoava de toda a envolvente, considerar instituirmo-nos como a cidade mais kitsch do planeta nem seria assim tão excêntrico como possa parecer. Do ponto de vista turístico, entenda-se. Sim, porque aquela dos passadiços não é coisa para durar e tornar-se-ia muito conveniente que arranjássemos outra atração turística para a substituir. Ao fim e ao cabo, uma cidade com uma decoração kitsch pode ser tão apelativa para os turistas como outra qualquer com melhor aspeto. Após a das capitais do queijo, do vinho, dos enchidos, da bola parda (seja lá isso o que for), do ar puro, da saúde, bem que já poderíamos reivindicar a da capital do “mau gosto” e do “desalinho”. A seguir, outra justa reivindicação que poderíamos fazer, era a de sermos a capital do vandalismo. Sim, porque há que potenciar esta nossa propensão para o promover e alimentar. Por isso, não basta estar à espera da “locomotiva” para haver algo mais que estragar e, depois dos cestos do lixo de vime estarem todos desfeitos, bem podíamos, sei lá, pensar em forrar os caixotes do lixo, da cidade toda, com umas camisolinhas de lã de merino. Só que colocaríamos uma placa, a dizer “favor não tocar”, ao lado de cada um deles. Sempre éramos originais e os caixotes do lixo não tinham tanto frio no Inverno. Podiam estar sempre cheios, sujos e partidos, mas frio é que não passavam.
Merino? Não, bordaleira.
Obviamente que se fosse para seduzir turistas que gostam de apreciar os resultados dos atos de vandalismo não precisávamos de placa nenhuma. Tal como também não precisaríamos de mais nada para passar umas boas semanas entretidos com o assunto do vandalismo. Fenómeno que, entre festas e o que cai aos bocados, costuma impedir que qualquer autarca consiga entender-se. Ou ser entendido, vá.
“É favor não tocar”
“Como sempre, recursos são coisa que por aqui não abunda e, pelo caminho que na última década a coisa tem levado, não se vislumbra qualquer oportunidade de a breve trecho chegar, ao menos, para o que realmente faz falta.”