Uma revolução se avizinha e muito me tenho debruçado sobre ela para abrir portas e janelas aos que deviam estar mais atentos. Há uma necessidade de alterar a sociedade capitalista naquilo que concerne à redução do uso, à redução do desejo, à diminuição do desperdício, à partilha dos excedentes, desde os supermercados, aos saldos de roupa, às sobras dos restaurantes. Esta cultura da etiquetagem para a destruição é um apanágio da Comissão Europeia, das estruturas empenhadas em regularizar, criar mecanismos fiscalizadores onde absorvem empregos de amigos e cúmplices, num processo altamente destrutivo do planeta. Não podes ter galinhas livres, não podes vender maçãs sem um padrão, não podes dar as sobras dos hipermercados.
A revolução inclui também a redução dos impostos para o conforto dos cidadãos. Não podemos discutir o frio se aquecer custa uma fortuna. Não podemos defender a qualidade de vida se ela está subjugada aos impérios financeiros que se apoderaram da água, da luz, da comunicação, da informação, da saúde, da educação. Os povos pobres que se aglomeram em procissões que buscam melhor vida construíram rios de migrantes na América do Sul, no Norte de África, na Indochina. Esta torrente de milhões está alicerçada numa demografia galopante em que África está à frente de todos os outros. A Nigéria vai ser o terceiro país mais populoso da humanidade em breve. Outros estados sofrem com o problema da insistência na vida, mesmo quando os cidadãos já não cumprem o mínimo de definição de humanidade. O encarniçamento terapêutico impede a morte e como existe em países ricos, também impede a infância de milhões que morrem de fome noutros lados.
A distribuição da riqueza à medida que ela se produz e a sua concentração incompreensível numa redoma de 1,5% da população do mundo vai gerar uma nova confrontação. O luxo, a ostentação, confrontam-se a metros da mais absoluta miséria. Estamos perante uma desigualdade carregada de falsa moral, como aquela que hoje desponta na defesa de princípios de cautelas que mataram 15 milhões de visons para nada, ou que abateu as vacas que seriam loucas, ou que amanhã abaterá os cães porque podem carregar um Covid. Esta redoma de cumpridores de programas, de escritores de normas, nasce de uma redução dos critérios de ensino, de uma facilitação das licenciaturas que conduziu à maior iliteracia, aquela que todos insulta na Internet, que todos vilipendiam em defesa de fanatismos ideológicos, de intolerâncias incultas. Haver muita gente formada não significa que há melhor gente formada, mas claro que há muitos que despontarão e descobrirão caminho, o problema serão as normas, as balizas, as definições que os mais estúpidos vão projetar para conter a dinâmica da vida. A vida é erro e aprendizagem, e é experiência, e diversidade, e é vida e morte, e é substituição e mutação.