Ao longo dos últimos seis meses, fui fazendo nestas páginas comentários sobre alguns aspectos curiosos da cultura lituana e, mais recentemente, de outros países independentes após a derrocada da União Soviética. Aproveito esta introdução para escrever uma vez mais a expressão “países independentes após a derrocada da União Soviética”, que me causa uma satisfação tão grande como “a cabidela já está pronta” e “logo à noite, em tua casa”.
Apesar de estar mesmo aqui ao lado, não visitei a Bielorrússia porque não cumpre o critério “independente da União Soviética”. Se ao leitor faltam exemplos, aqui ficam dois: o governo da Bielorrússia considera os vôos entre Minsk e Moscovo como “vôos internos” e não exige passaporte aos russofalantes que vivem na Letónia e na Estónia.
Apesar de escrever semanalmente sobre a Lituânia, há uma característica evidente que tem estado ausente destas crónicas: a natureza. E por natureza não quero dizer a natureza humana. Por favor, caro leitor, tenha decoro e pare de fazer perguntas sobre as mulheres lituanas. Até porque o mais provável é já conhecer uma, ou estar muito próximo disso, já que cerca de um terço estão casadas com portugueses.
Continuando, a Lituânia tem vastíssimas áreas de floresta, com alguns lagos de permeio. Claro que florestas espalhadas pelo território, Portugal também tem. O que difere é uma quantidade insana de parques, bosques e florestas no meio das cidades. Vilnius tem, dentro do perímetro urbano, milhentos parques, vários bosques e uma imensa floresta. Mesmo cidades pequenas, como Ukmergė, de tamanho semelhante à Guarda ou à Covilhã, tem cinco ou seis vezes mais espaços verdes.
A construção e disposição das casas nas aldeias lituanas também facilita que se perceba melhor o espaço envolvente. Todas as casas são construídas em madeira – a pedra não é matéria-prima que abunde por estes lados – e separadas umas das outras, cada uma construída em isolados pedaços de terreno. A tarefa de saber a vida dos outros é muito mais difícil na região da Dzukija do que em qualquer freguesia da Beira Alta. Talvez por isso, durante a ocupação, o KGB teve necessidade de aperfeiçoar os métodos de vigilância, porque só com a conversa dos vizinhos não ia a lado nenhum.
Conversa de arvoredo
O que difere é uma quantidade insana de parques, bosques e florestas no meio das cidades.