Rui Rio passou pela Guarda para reunir o seu Conselho Nacional do PSD e cimentar o apoio aos candidatos às Câmaras do distrito. O presidente dos social-democratas aproveitou para reiterar o apoio a Carlos Chaves Monteiro, à Câmara da Guarda, explicando as premissas da escolha e, enquanto defendia a união, diminuiu o prófugo e demissionário líder da concelhia Sérgio Costa. Para Rio, o candidato independente à Câmara da Guarda não tem peso eleitoral e «não irá influenciar o resultado». Talvez o presidente do PSD tenha razão e o “novo” independente pode não ter peso eleitoral, mas tem seguidores, em especial nas aldeias (as freguesias rurais representam hoje apenas um terço dos eleitores do concelho da Guarda…), o que não lhe servirá de muito (poderá ambicionar ser eleito vereador) mas servirá o seu sentido de vingança; não dará para ganhar, mas pode influenciar os equilíbrios da governação.
No pressuposto de que quem está no poder parte em vantagem e «as eleições não se ganham, perdem-se», o PSD, na Guarda, mesmo perdendo votos, com a fuga primeiro de Álvaro Amaro e agora com a candidatura de Sérgio Costa, tem todas as condições para ganhar as próximas autárquicas e dar a Carlos Chaves Monteiro o reconhecimento que as urnas oferecem – até lá, não pode cometer mais erros (como o de convidar Barreto Xavier para a Assembleia Municipal), terá de concretizar alguma das promessas (os Passadiços) e manter a estima dos guardenses em alta (a fé nos mil novos postos de trabalho farão o resto).
O PS facilitou-lhe o caminho. A opção por um quase desconhecido Luís Couto (os milhares de euros em cartazes plantados por todo o lado tirarão o candidato da penumbra), funcionário público com longa trajetória, de reconhecidos méritos, foi uma decisão errada num momento em que o PSD local sofreu uma cisão e vive internamente em sobressalto e dúvidas sobre a capacidade de agregar. Aos socialistas não basta ter, na apresentação do candidato, os nomes do “passado glorioso” dos socialistas guardenses, as referências de «quase 40 anos de poder» na Guarda, uma ministra em alta (deputada eleita pela Guarda depois de ter adotado o distrito; candidata a presidente da Assembleia Municipal) ou o descontentamento de muitos guardenses em relação à perceção negativa sobre o futuro. A candidatura do PS para aspirar à vitória tem de ter muito mais, tem de mostrar muito mais.
Em 2017, cobardemente, o PS Guarda escondeu-se e entregou a Eduardo de Brito a tarefa de disputar com Álvaro Amaro as eleições. Muitos dos que agora rodearam Luís Couto estiveram na apresentação do antigo autarca de Seia, mas se antes de Brito ser nomeado estavam longe dos guardenses, mais longe estiveram estes quatro anos em que o PS desertou da oposição (onde estiveram sozinhos e abandonados Agostinho Gonçalves, António Monteirinho e Cristina Correia). Agora, à boleia de Ana Mendes Godinho e do Governo da nação, regressam otimistas. Porém, os maiores problemas da Guarda têm a ver com a falta de apoio do Governo – onde está a UEPS da GNR prometida em 2019 com a criação de centenas de postos de trabalho «bem remunerado»? Onde está a segunda fase do hospital prometido por António Costa em 2017? Onde está o Hotel Turismo que a Câmara socialista vendeu ao Governo em 2011 (Turismo de Portugal, Estado português) e que passados 10 anos continua fechado?
Bem pode Luís Couto falar do que está por fazer e do que está por cumprir, pode falar da Guarda parada, das desavenças na casa alheia ou da reorganização de serviços municipais (que é feita sempre que um autarca muda), mas se não tiver mais para mostrar – boa lista, projetos e apostas do Governo do partido que o escolheu – dificilmente agregará novos apoiantes (entretanto nomeou coordenador do “programa eleitoral” Virgílio Bento, que foi vereador socialista da Câmara da Guarda de 1997 a 2013, ano em que dividiu e tirou a câmara ao PS, com uma lista de cisão contra os socialistas, e em 2017 aplaudiu Álvaro Amaro). O PS em 2017 foi humilhado com 5.523 votos. Para ganhar, Luís Couto terá de duplicar os votos. Ou quase.
Falta ainda perceber o peso do Chega. Mas sabemos que no concelho da Guarda André Ventura foi o segundo candidato mais votado nas Presidenciais (com 2.485 votos) e que Ana Gomes teve apenas 1.901. Com esta premissa, Francisco Dias pode também ser eleito vereador. Falta perceber onde irá o Chega “roubar” os votos: no moribundo CDS (nas últimas autárquicas, no concelho da Guarda, teve 1.321 votos), no PSD (em 2017 teve 14.476) ou no PS (Francisco Dias foi eleito numa lista socialista à Assembleia de Freguesia de Avelãs da Ribeira, se não me equivoco, nos tempos de Joaquim Valente).
E ainda falta todo um verão quente de debate e discussão, de argumentos e “ataques”, de provações e campanha. Ainda falta muito, mas quem quiser ganhar a Câmara da Guarda tem de andar depressa.
Começou o verão eleitoral
« No pressuposto de que quem está no poder parte em vantagem e «as eleições não se ganham, perdem-se», o PSD, na Guarda, mesmo perdendo votos, tem todas as condições para ganhar as próximas autárquicas e dar a Carlos Chaves Monteiro o reconhecimento que as urnas oferecem»