Colégio de S. José

Escrito por Francisco Manso

“Em 1945, a diocese adquiriu a totalidade da propriedade do Internato, que passou a designar-se Colégio de S. José, uma homenagem ao grande bispo.”

Eram 4 horas da manhã do dia 31 de março de 1964. A sirene elétrica dos bombeiros, instalada na Torre dos Ferreiros (adquirida em 1932, para substituir o velho toque mecânico da torre sineira direita da Igreja da Misericórdia), acorda, sobressaltadas, as gentes da Guarda. O Colégio de S. José estava a arder!
Mal o incêndio deflagrou o alarme foi dado quase de imediato. Os bombeiros acodem com rapidez, mas o fogo já tinha atingido proporções dantescas. Apesar do seu esforço, lutando contra o fogo e a crónica falta de água na cidade, só pelas 11 horas da noite foi dado como extinto. Dada a localização do Colégio, a mil metros de altitude, e as dimensões do sinistro, o fogo foi bem visível pelas terras em redor, e algumas bem distantes. Apesar de tudo, não houve vítimas a lamentar, mas pouco mais sobrou que algumas paredes.

Dr. Monteiro da Fonseca

António Monteiro da Fonseca nasceu a 17 de janeiro de 1895 no lugar da Torre, freguesia de Casal de Cinza, concelho da Guarda.
Feito o ensino primário na sua aldeia, ingressou no seminário de Nossa Senhora do Rosário, em Cavadoude (Guarda), de onde saiu após o seu encerramento forçado, em 1910, não tendo retomado a carreira eclesiástica. Após os estudos secundários na Guarda ingressou na Universidade de Coimbra, onde se formou em Filologia Românica. A letra do célebre fado de Coimbra “Capas ao Vento” é da sua autoria, bem como o “Hino à Paz”. Foi professor até aos 80 anos, altura em que se reformou. Morreu a 15 de agosto de 1986, depois de ter sido várias vezes homenageado.

O Internato Académico

Monteiro da Fonseca regressa à Guarda e apercebe-se das lacunas que a cidade e a região tinham em termos de ensino secundário masculino. Ciente da sua importância, lança-se num projeto de envergadura para colmatar essa deficiência. É assim, fruto do seu empenho e dinamismo, que em 1929 nasceu o Internato Académico.
Foi, talvez, a obra da sua vida, e que ele sentiu de uma forma muito intensa, por isso, referindo-se ao Internato Académico, não exita em afirmar: «Que eu sozinho fundei, criei e que cresceu»… in “Álbum de Retratos” (Guarda, 1974).
Para instalar o Internato arrendou uma casa, uma das melhores da cidade, que fora mandada construir pelo médico dr. Monteiro Sacadura para sua residência, em finais do séc. XIX. Ficava entre as atuais ruas Soeiro Viegas e Dona Maria Luísa Godinho (de acesso ao cemitério velho), onde agora funciona a Fundação Frei Pedro. Para professores contratou algumas das figuras mais prestigiadas da cidade, como o capitão Pinto Monteiro, o major Orlindo de Carvalho e Dr. Joaquim Bernardo.
O sucesso foi grande, mas com o passar dos anos, perante novas e mais exigentes disposições legais, as condições pedagógicas foram-se deteriorando de forma significativa. A solução, muito a contragosto de Monteiro da Fonseca, foi vender. E será neste contexto que o Internato Académico virá ser o embrião de uma prestigiada instituição da região: o Colégio de S. José.
D. José Alves Matoso, bispo da Guarda, homem muito culto, sabia que era fundamental para a preparação dos jovens, da cidade e da região, a existência de uma casa que desse resposta a essa necessidade, sentida particularmente pelos pais. Assim, a diocese adquiriu o Internato, que passou a ter a designação de Colégio Internato Académico da Guarda, e que nessa altura já se encontrava instalado no Campo dos Bois, por cima da Quinta dos Pelames, entre a atual Praça Monsenhor Alves Brás e a Rua dr. Ribeiro Sanches. Foi inaugurado em outubro de 1934, mas tendo já mais um andar que no projeto inicial, e uma capela, benzida por D. João de Oliveira Matos em 1935.

O Colégio de S. José

Em 1945, a diocese adquiriu a totalidade da propriedade do Internato, que passou a designar-se Colégio de S. José, uma homenagem ao grande bispo. Popularmente, era “O Rocha” e tudo porque o padre Messias Marques, um dos seus dirigentes, gostava de atestar a robustez do colégio afirmando que se encontrava assente sobre rocha firme.
Mas, havendo continuidade com o anterior Internato, dá-se novo salto qualitativo, nomeadamente no elenco docente, passando a ser dirigido pelo cónego Álvaro Quintalo, natural de Rendo, concelho do Sabugal, que irá marcar gerações de alunos.

O incêndio

Eram 4 horas da manhã quando deflagrou um violento incêndio que destruiu por completo o edifício do Colégio de S. José, incluindo os pertences dos alunos. Foi tão forte que apesar do esforço dos bombeiros, lutando contra o fogo e a falta de água, só pelas 11 horas da noite foi extinto. Dada a localização do colégio, numa encosta e a mil metros de altitude, o fogo foi bem visível pelas terras em redor, até, mesmo, as da raia, já bem distantes. Mas, felizmente, não houve vítimas a lamentar, pois os alunos tinham ido para férias no dia anterior. Já antes, em 1958, ali tinha ocorrido um outro incêndio, mas de muito menores proporções.
Para os alunos não serem prejudicados, e enquanto não foi encontrada uma solução definitiva para o problema, ficaram instalados provisoriamente no ginásio e sala de estudos, que tinham escapado ao fogo, e no antigo paço episcopal, na Rua Alves Roçadas.
A diocese, apesar dos elevados custos financeiros envolvidos, decidiu manter o projeto e construir novas instalações. Assim, ainda em 1961, foi adquirida a quinta de Nossa Senhora do Mileu, onde rapidamente foi construído um moderno e modelar edifício, de tal forma que no ano letivo 1964/65 já se encontrava em funcionamento.
O Colégio encerrou, mas a memória daquela casa de excelência na formação de homens, realçando os seus princípios e valores, continua bem viva.

* Investigador da história local e regional

Sobre o autor

Francisco Manso

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