Em vez de honrosa, como deveria ser, a próxima cimeira ibérica que se irá realizar na Guarda no final de setembro tem um duplo sabor a falsa distinção. Nem à cidade e à sua região foi dado nos últimos tempos qualquer instrumento de protagonismo nas relações sociais, económicas ou culturais de Portugal com Espanha, nem a promoção e o desenvolvimento do Interior têm sido a marca política das últimas décadas.
A cidade e a região têm sido sucessivamente votadas ao esquecimento, num processo que parece não querer infletir a tendência, ironicamente, podemos até dizer, que as únicas coisas que por estas paragens crescem, é o mato e os cemitérios.
Esse esquecimento, que afeta o interior português de norte a sul, é ainda mais sensível na Guarda, que tem sido completamente esquecida em todos os planos e reflexões nacionais sobre o futuro. A isso acresce – primeiro como causa, depois como consequência – a falta de protagonismo político e mediático das principais figuras políticas da cidade e da região, de qualquer partido, intervenham elas a nível local ou nacional.
Isto, que já seria péssimo em qualquer circunstância, é ainda pior no contexto de uma crise pandémica em que os territórios fronteiriços foram os mais prejudicados pelas medidas sanitárias contra a Covid-19. Aos prejuízos históricos e estruturais causados há 35 anos pela adesão à então Comunidade Económica Europeia – que foi muito boa para o país como um todo, mas que significou um rude golpe na economia e nas vocações empresariais raianas –, juntou-se agora, em 2020, o facto objetivo de o encerramento das fronteiras terrestres ter prejudicado diretamente muito mais os sistemas sócio económicos da fronteira do que os das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto ou os dos territórios do litoral.
Reunir a cimeira na Guarda só fará sentido (como só faria sentido se tivesse sido marcada para a Salamanca) se os dois chefes de Governo peninsulares, António Costa e Pedro Sánchez, vierem anunciar um plano de desenvolvimento integrado para os territórios fronteiriços dos dois países no contexto do combate à crise económica, única forma de os compensar pelos maiores prejuízos que sofreram de março a esta parte.
Se não for para isso, mais vale não virem para a Guarda! Não desfazendo, é melhor irem para a Figueira da Foz aprovar o traçado do TGV como em 2003: assim como assim, já sabemos que não é para levar a sério.
* Dirigente sindical